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12º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa

Categorias - Cinematografia Gay Portuguesa Anos 70

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Domingo, 21 - 19:15
Cinema São Jorge - Sala 3
Os Demónios da Liberdade
João Paulo Ferreira
Cinematografia Gay Portuguesa Anos 70 - Curta Metragem
20 min. Portugal 1976 iCal Google Calendar
No seio de uma família da alta burguesia vive-se um bizarro triângulo amoroso.
Dois homens, uma mulher. Um casal e um homem estranho ao seio familiar. Um estranho está à boleia na estrada e o outro convida-o a entrar no seu carro. Uma mão na perna denuncia tudo. Ela espera-os em casa, um sumptuoso palacete. Um ensaio sobre as várias possibilidades e rituais de uma liberdade recente, Os Demónios da Liberdade é também um manifesto de liberdade sexual. Mas os demónios ainda andam por lá. O amante que transporta os novos ventos para dentro da vida deste casal, é perseguido pelos fantasmas da moralidade e de um passado ainda presente, devidamente identificado com uma suástica na testa. Uma muito eficaz trilha sonora, aliada a um especial cuidado na montagem e um enorme sentido cinematográfico na captação dos planos, enquadramentos e gestão do tempo, fazem desta curtametragem um singular objecto para o seu tempo. E passados 30 anos sobre este filme, não podemos deixar de reflectir, hoje, sobre alguns aspectos da nossa sociedade e costumes onde marcas fortes de privação de liberdade parecem ainda persistir. J.F.

At the heart of an upper-middle class family resides a bizarre love triangle. Two men, one woman. A couple, and a stranger to the family. The stranger is hitchhiking by the road and a man invites him into his car.
A hand on a thigh speaks volumes. She is waiting for them at home, a sumptuous villa. An essay on the various possibilities and rituals of recent freedom, Os Demónios da Liberdade is also a manifest of sexual freedom. But the demons are still around.
The lover who breathes fresh air into this couple’s life is himself chased by the ghosts of morality and by a past still too present, duly identified by a swastika on his forehead.
A very effective musical score, together with especially careful editing and a great cinematographic sensitivity in the set-up, shooting and time management, make this short film a singular object for its time. And, thirty years after its making, we can but think about some aspects and behaviours of our society today, where strong signs of lack of freedom still seem to prevail. J.F


Fatucha Superstar – Ópera Rock… Bufa
João Paulo Ferreira
Cinematografia Gay Portuguesa Anos 70 - Longa Metragem
43 min. Portugal 1976 iCal Google Calendar
Embora a sua obra, iniciada em 1975, tenha acabado por focar muito mais fortemente questões políticas e sociais, João Paulo Ferreira realizou esta obra singular, Fatucha Superstar, num registo musical inspirado no Jesus Christ Superstar, de Andrew Lloyd Webber. Com a revolução ainda quente, Ferreira desconstrói aquele que foi um dos grandes alicerces do Estado Novo: as aparições de Nossa Senhora de Fátima.
Se por um lado, Fatucha Superstar é fiel à estética hippie do musical de Webber – e a uma geração portuguesa da altura –, já Fátima, ou Fatucha, é um sofisticado travesti que surge aos três pastorinhos de óculos escuros e descapotável.
O filme abre com imagens de peregrinos em Fátima. Mas apesar desta introdução em registo documental, o que João Paulo Ferreira nos propõe é que revisitemos o mito, contando-nos a sua verdade acerca do mesmo. Num descampado, os três pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco dançam em enorme alegria, até que Jacinta (de bigode farfalhudo) tem uma premonição.
Mas é a Francisco que Fatucha aparece. O rapaz imediatamente chama as suas irmãs para com ele testemunharem o estranho fenómeno. Fatucha canta aos pastorinhos, prometendo-lhes sucesso e notoriedade no futuro. Mas Francisco, mais do que inebriado pelas promessas, apaixona-se por esta insinuante mulher, a quem dedica uma canção, em êxtase bucólico: "Eu sinto a minha cabeça à roda, / o peito, espartilho, / não posso esquecer aquela gaja, / que é boa com’ó milho…" Surge então de novo Fatucha, também num solo, prometendo dar início à sua luta, não sem antes consultar Deus, que reage assim à sua proposta: "Mas que grande debochada…" Quando Fatucha surge novamente aos pastorinhos, dá-se início ao milagre, aqui em forma de passos de mágica. Ela faz surgir uma mesa, tira objectos de uma cartola, faz aparecer um sumo de laranja para os refrescar, transfigura Jacinta numa apelativa mulher. Mas algo não corre tão bem. Num passo mal ensaiado, fazdesaparecer Jacinta, levando os seus irmãos a escorraçá-la. Fatucha foge para o carro e a tragédia adivinha-se. Qual Isadora Duncan, o seu véu fica preso à roda. Fatucha parece ter-nos deixado.
A meio desta sua reinterpretação das aparições, João Paulo Ferreira interrompe a narrativa para um insert – anunciado por um efeito de luzes psicadélicas –, que nos remete para o presente. Numa pista de dança, anjos, freiras e Deus, dançam despudoradamente.
As personagens desta fábula entregam-se aos mais terrenos e carnais desejos. Num altar, ao fundo, a substituir a figura religiosa, esse outro objecto de culto bem mais pagão: um enorme falo. No final do filme, novo regresso ao tempo presente. Um grupo de amigos celebra Fatucha. Afinal, ela não morreu.
Numa derradeira homenagem, cantam-lhe em uníssono: "Oh Fatucha Superstar, porque andas tu o povo a enganar. / Oh Fatucha Superstar, olha que ainda te vão lixar". J.F.

The oeuvre of João Paulo Ferreira, which began in 1975, generally had a strong focus on social and political issues, he directed this singular work, Fatucha Superstar, in a musical style inspired by Andrew Lloyd Webber’s production of Jesus Christ Superstar. With the Portuguese revolution of 1974 still fresh, Ferreira deconstructed one of the greatest pillars of the dictatorial Estado Novo regime: the apparitions of Our Lady of Fatima. If, on the one hand, Fatucha Superstar is faithful to the hippie aesthetic of Webber’s musical – and to a Portuguese generation of the time – on the other, Fatima, or Fatucha, is a sophisticated transvestite that appears to the three little shepherds in dark glasses and a convertible.
The film begins with images of pilgrims in Fatima. But, in spite of this documentary style introduction, João Paulo Ferreira asks us to revisit the myth, revealing to us his own truth about it. In an open, deserted field, the three little shepherds, Lúcia, Jacinta and Francisco dance with unfettered gaiety, until Jacinta (with a hairy moustache) has a premonition. But it’s to Francisco that Fatucha appears. The boy immediately calls his sisters so they can also witness the strange phenomenon. Fatucha sings to the little shepherds, promising them fame and success in the future. But Francisco, more than inebriated by these promises, falls in love with this fascinating woman, to whom he dedicates, in bucolic ecstasy, this song: "I feel my head turning around, / the bosom, corset, / I can’t forget that broad, / she is hot as hell…" Then comes Fatucha again, also in a solo, promising to begin her struggle, not without consulting first with God, who thus reacts to her proposal: "What debauchery …" When Fatucha appears again to the little shepherds, the miracle begins, in the form of magician’s tricks. She makes a table appear, takes objects out a top hat, makes orange juice appear to quench their thirst, and transforms Jacinta into an appealing woman. But something goes wrong when she makes Jacinta disappear, leading her siblings to chase her away. Fatucha runs to her car and tragedy looms. As a new Isadora Duncan, her veil gets caught in the car wheel. Fatucha seems to have left us.
Halfway into his reinterpretation of theapparitions, João Paulo Ferreira interrupts the narrative with an insert – announced by psychedelic lighting effects –, that brings us to the present. On a dance floor, angels, nuns, and God dance without shame. The characters in this fable give themselves up to the most earthly and carnal desires.
On an altar in the background, instead of a religious figure, there is that other, rather more pagan, cult object: an enormous phallus. At the end of the film, there is a new return to the present time. A group of friends celebrates Fatucha. She isn’t dead after all. In a final homage, they sing in unison: "Oh Fatucha Superstar, why are you fooling the people. / Oh Fatucha Superstar, beware that they will screw you in the end".
J.F


Programas para maiores de 18 anos - Esta secção é meramente informativa, verifique eventuais alterações de programa junto da organização do festival.
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