Mesmo a tempo das comemorações do mês do orgulho LGBT um pouco por todo o mundo, o Vaticano divulgou um novo documento em que defende por um lado o casal heterossexual como única forma de família e, por outro, que as questões de identidade de género não existem.
O texto de mais de 30 páginas intitulado "Homem e Mulher, Ele Os Criou" foi divulgado pela Congregação para a Educação Católica esta segunda-feira (10 de junho) e defende que ninguém pode mudar o seu género relativamente ao sexo.
Essa ideologia inspira programas educacionais e tendências legislativas que promovem ideias de identidade pessoal e intimidade afetiva que fazem uma ruptura radical com a diferença biológica real entre macho e fêmea Congregação para a Educação Católica
O objectivo do documento é disponibilizar orientações para pais e professores católicos com foco nas questões trans, mas aproveita para defender que há uma "crise educacional, especialmente no campo da afetividade e da sexualidade".
No texto o Vaticano defende que a "oscilação" entre géneros - que seria o caso das pessoas "intersexo" e "transgénero" - levam a ambiguidades nos conceitos de masculinidade e feminilidade, e não são nada mais que "uma exibição" de reação sobre os papeis tradicionais e que "ignora o sofrimento daqueles que têm que viver situações indeterminação sexual".
O documento também defende que é o papel "dos profissionais médicos" realizarem "intervenções terapêuticas" no caso de crianças que tenham genitalia ambígua, e que nestes casos "a decisão não é nem dos pais, nem da sociedade".
Reforçando o discurso dual do Papa Francisco (que não é referido no texto), o documento defende que a a Igreja condena veementemente qualquer “intimidação, violência, insultos ou discriminação injusta” de crianças com base nas suas características específicas (como necessidades especiais, raça, religião, tendências sexuais, etc.) mas também reforça o a ideia de que as crianças devem ser educadas numa família com um pai e mãe.
O Vaticano defende as suas ideias alegando que deve haver liberdade para discordar das visões predominantes em algumas sociedades em que o género é definido como uma construção social. A Igreja mostra-se especialmente preocupada neste cenário que considera "delicado" pois tem a ver com "fundamentos da natureza humana" por um lado, e por outro com "os direitos naturais dos pais de escolherem livremente qualquer modelo educacional que esteja de acordo com a dignidade da pessoa humana."
O documento também elogia estudos antropológicos focados nos "valores da feminilidade", elogiando como "a capacidade das mulheres para o outro favorece uma leitura mais realista e madura das situações em evolução ".
Mensagem prejudicial
Grupos de católicos LGBT criticaram duramente o documento, como é o caso da associação New Ways Ministry:
Este documento é uma ferramenta prejudicial que será usada para oprimir e prejudicar não apenas pessoas transgéneras, mas também pessoas lésbicas, gays e bissexuais New Ways Ministry
A associação critica a forma como o texto aborda as questões de género e o efeito que terá em aumentar a confusão e impacto que estas questões têm sobre as pessoas trans.
Tal confusão leva à auto-mutilação, dependência e até mesmo suicídio. A desinformação que o documento contém fará com que as famílias rejeitem os seus filhos e aumentará a alienação de pessoas LGBT da Igreja. New Ways Ministry
A associação acusa a Igreja de ignorar os novos entendimentos científicos sobre a identidade de género e que o Vaticano se recusa a dialogar com as pessoas LGBT, promovendo um "falso ensino que se baseia em mitos, rumores e mentiras".