Sob uma quarentena quase total, o Panamá já fechou escolas e fronteiras, e os cidadãos em geral apenas são autorizados a sair durante duas horas por dia de acordo com o último dígito do seu cartão de identificação, e.g. quem termina em 7 pode sair entre as 6:30 e as 8:30 da manhã. Mas as novas regras de controlo do COVID-19 aplicadas desde o início do mês de Abril vão mais longe: homens e mulheres só podem sair em dias diferentes da semana e a polícia está nas ruas a fazer verificação dos documentos de identificação.
As organizações de direitos LGBT+ alertaram imediatamente que as novas regras - que permanecerão em vigor até pelo menos 12 de abril - terão efeitos muito graves nas pessoas trans, especialmente quando ainda há polícias com mentalidades retrógradas, como explicou Ricardo Beteta, da Associação de Novos Homens e Mulheres do Panamá, à AFP:
Ainda há polícias que usam o argumento de que Deus criou apenas Adão e Eva.
Como fica uma pessoa trans nesta situação? Ricardo Beteta
E as preocupações tiveram confirmação logo no primeiro dia das regras de género: uma mulher trans chamada Bárbara Delgado foi detida pela polícia a caminho do trabalho. A polícia verificou o género masculino no seu documento de identificação e levou-a para a esquadra, onde foi acusada de não ser mulher, foi detida durante três horas "humilhantes" e depois libertada com multa, segundo a Human Rights Watch.
E como Bárbara Delgado, muitas outras pessoas se vêm na mesma situação, num país que só reconhece a possibilidade de correção do género legal após puderem provar que foram submetidas a uma cirurgia de confirmação de género.
Neste momento o país tem cerca de 2000 casos confirmados de COVID-19, e mais de 50 mortes. De acordo com as regras de isolamento, as mulheres só podem sair para questões essenciais às segundas, quartas e sextas-feiras, enquanto os homens podem sair às terças, quintas e sábados. Nenhum dos cerca de 4 milhões de habitantes to Panamá pode sair de casa aos domingos a não ser com um salvo conduto especial.