Este é um sentimento que surge quando percebemos que seis anos depois algures neste Portugal há ainda uma sociedade que debate se a igualdade deve existir e ou o que é ser e ou ter deveres e direitos iguais.
Conscientes disso mesmo os alunos do 3º ano do Curso de Serviço Social da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) decidiram chamar a atenção para a questão da igualdade no acesso ao casamento civil por casais do mesmo sexo e de sexo diferente.
Nós no PG quisemos saber como foi, desde o debate de ideias passando pelo cortejo, e avaliação final.
PG - Como surgiu a ideia de levar um camião com este tema no curso académico?
SvS – A ideia surgiu enquanto estávamos a tentar decidir qual o tema que íamos adotar. Sabíamos desde o início que seria algo alusivo ao curso de Serviço Social, ligado à mudança social. Tivemos algumas dificuldades inicialmente. Não é fácil passar da teoria à prática e tínhamos ainda que ter em consideração tanto o constrangimento temporal como financeiro. Começamos por considerar o tema de “paz e amor”, mas depois de várias discussões e dificuldades em perceber como se procederia à decoração do camião de forma a transmitir mensagem acabamos por decidir que queríamos algo com impacto e muito pouco subtil porque a mudança costuma vir do impacto. Tendo em conta o contexto em que nos encontrávamos, uma cidade e região com bastante população envelhecida e valores culturais tradicionais achamos que este seria polémico, mas com um potencial enorme de reivindicação, além de que a decoração não seria muito difícil e ficaria apelativa.
PG - Como correu o debate da ideia entre vocês?
SvS - O debate da ideia foi muito bom, até enriquecedor como um grupo porque serviu para cimentar a ideia de que todos queremos a igualdade na sociedade e que existe vontade de a procurar ativamente. Com o tema fixado falamos sobre o nosso objetivo, que seria a procura pró-ativa de mudança social. Sabemos que não será apenas com um movimento, ideia ou campanha que as coisas vão mudar, mas é com esta vontade e trabalho progressivo que vamos aos poucos conseguindo melhorar a situação de muitas pessoas e sabemos que a ação gera ação e um pequeno movimento pode ser o catalisador de pequenas grandes mudanças.
PG - Qual foi a reacção do restante espaço académico (alunos e professores) e depois o público que na rua assistir?
SvS – A reação inicial não foi muita anteriormente ao cortejo, uma vez que o tema foi escolhido em pouco tempo, cerca de dois ou três meses anteriores ao cortejo. Esforçamo-nos também por não partilhar em demasia o nosso tema de maneira a aumentar o impacto que este provocaria. Chegamos a partilhar e pedir conselhos a alguns professores, e cabe destacar o apoio da Professora Luzia Oca e da Professora Vera Mendonça, as quais discutem e nos expõem vezes sem conta o tema da igualdade e a reflexão crítica sobre temas sociais. O apoio prestado pelas duas foi inigualável e a sua ajuda valiosa na concretização desta visão.
Durante o cortejo foram vários os nossos colegas universitários que vieram congratular tanto o aspeto visual como a mensagem transmitida. Foi visível o impacto, conseguimos detetar tanto o choque em algumas pessoas como até o desconforto, mas maioritariamente diria que foi muito positivo, não apenas pelas expressões faciais da maior parte da população, como pelas palavras transmitidas a vários finalistas e as fotos que foram sendo tiradas pelas pessoas que observavam o cortejo.
Um momento em que estas reações foram visíveis foi o momento da apresentação que costuma contar com uma coreografia realizada pelos finalistas do curso e pelo canto da canção do mesmo. Admitimos que negligenciamos esta apresentação e para variar escolhemos o caminho que causasse mais impacto. A nossa apresentação foi uma encenação de dois casamentos em conjunto, um casamento heterossexual e outro homossexual. No fim do casamento ambos os casais deram um beijo e notou-se o constrangimento de vários membros do público, o que na nossa opinião foi o objetivo pretendido.
PG - Tiveram feedback depois do evento, bons e menos bons?
SvS – O feedback depois do evento foi muito positivo, ficamos surpreendidos, mas muito orgulhosos quando a TVI de Trás-os-Montes publicou fotos do cortejo académico e vimos o nosso camião em destaque. Alguns professores chegaram a partilhar as fotos e felicitar-nos pessoalmente pelo camião e pela iniciativa tomada.
PG - Faziam-no de novo?
SvS – Sem dúvida, apesar de todo o esforço e tempo investido o resultado final superou todas as nossas expetativas.
Esperemos que outros sigam estes primeiros passos!