Eles decidiram pedir votos para o Partido Popular (de direita)", disse o porta-voz do Psoe, José Blanco, à rádio SER.
Blanco disse que era uma atitude lógica, já que nos últimos quatro anos a Igreja se uniu ao Partido Popular em várias manifestações antigoverno - contra negociações com o grupo separatista basco ETA (Pátria Basca e Liberdade), o casamento homossexual e a restrição à educação religiosa nas escolas. Considerando a postura dos bispos "imoral" e "hipócrita", Blanco disse ter certeza que muitos católicos, como ele, se envergonham da interferência da Igreja na política.
As eleições gerais espanholas serão realizadas em 9 de março, e as últimas pesquisas indicam que os socialistas e o Partido Popular estão empatados na preferência dos eleitores. Na Espanha, os líderes da Igreja Católica há muito são alinhados com a direita, tendo apoiado as forças fascistas do ex-general Francisco Franco na Guerra Civil (1936 a 1939) e nas quatro décadas de ditadura que se seguiu. Na volta da democracia, a Igreja tem consistentemente apoiado os conservadores nas eleições, apesar de nunca nomear explicitamente algum partido.
Em um comunicado divulgado ontem, a Conferência dos Bispos Espanhóis disse que enquanto "católicos podem apoiar e participar de diferentes partidos, também é verdade que nem todos os programas (eleitorais) são igualmente compatíveis com a fé e as exigências da vida cristã". O comunicado lembrava o pedido do papa Bento XVI para que seja protegida a forma tradicional de casamento e criticava mudanças promovidas pelo governo para restringir o ensino religioso em escolas. Blanco disse que o país tem as mesmas leis de divórcio e aborto de quando o Partido Popular estava no poder e que a Igreja nunca reclamou.
ETA
Sobre as negociações com grupos armados, os bispos declararam: "Uma sociedade que quer ser livre e justa não pode, explicita ou implicitamente, reconhecer uma organização terrorista como um representante político de setor algum da população". Os esforços do primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero para colocar um fim ao conflito basco com o ETA foram apoiados por todas as partes, exceto os conservadores.
O acordo faliu quando o ETA abandonou o cessar-fogo depois de não conseguir concessões. Blanco acusou a Igreja de hipocrisia dizendo que ela participou de negociações com o ETA durante o governo do ex-primeiro-ministro conservador José María Aznar. "Quando Aznar mandou um bispo para as negociações com o ETA, não foi pecado", disse Blanco. Em comunicado divulgado ontem os socialistas disseram: "Se as pessoas não devem votar em partidos que negociaram com o ETA, então elas não devem votar porque nenhum partido cumpre esse requisito".