O Culturismo nos OutGames desperta sentimentos contraditórios. Os segmentos strike-a-pose são uma seca para o comum dos mortais, mas o paraíso-na-terra para os admiradores do físico. E não nos enganemos aqui, a palavra inglesa "physique" é adequada para o evento, muito mais que "músculos"... Pode-se encontrar peitorais ou braços bem maiores numa noite do circuito gay de clubbing, mas o que não é tão comum é encontrar características como definição extrema e simetria que são essenciais para obter um bom resultado nas competições. A questão da definição leva a dois efeitos colaterais: a cobertura de bronzeado falso utilizada para aumentar o contraste nas condições de iluminação utilizadas em competição (e que parecem um ataque de agente-laranja à luz do dia) e a completa ausência de pelo corporal. Esta última funciona para os dois lados: ajuda a mostrar a definição, mas também acentua qualquer "falha" que exista.
Numa perspectiva muito pessoal, fiquei fan dos eventos de culturismo coreografados - aparentemente não sou o único pela audiência que pude testemunhar em eventos deste género. Além das poses e apresentação do físico, há espaço para inovação (num evento gay anterior um dos casais vencedores tinha antecedentes de ginástica e fizeram algumas acrobacias fantásticas), os números são variados (pelo menos no que toca a escolhas musicais... o que nem sempre é bom sinal), e há espaço para diversão e até sedução. E acima de tudo os atletas não tem de se mover e fazer poses para o júri como escravos num filme de dominatrix: são livres de fazerem o que querem no palco. E isto é mais o género de evento que eu gosto de ver (agora de fizesse parte do filme, talvez a história fosse outra...).