Correio da Manhã
Segunda, 20 de Março 2006
http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=195545&idCanal=9
Porto - Caso do travesti assassinado: Oficina de S. José assume responsabilidade moral
por Baía Reis, Porto
A Oficina de S. José, no Porto, assume a “responsabilidade moral” no homicídio de um sem-abrigo e travesti, em que alegadamente estiveram envolvidos 11 dos 66 internos, afirmou ao CM o padre Lino Maia, colaborador da instituição e presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS).
O padre afirmou que a Oficina de S. José “não tem responsabilidades directas no homicídio, porque não foram detectadas eventuais falhas no acompanhamento dos jovens suspeitos do crime”.
Ontem, contrariamente ao que tinha sido anunciado, a instituição não abriu totalmente as suas portas, a pretexto da celebração do Dia de S. José.
Apenas o recreio e o salão, onde decorreu um almoço/convívio com a direcção da instituição, os familiares dos internos e antigos internos e convidados, estiveram abertos.
Quanto ao resto das instalações, permaneceram fechadas a sete chaves e não houve autorização para serem visitadas.
Também o relatório mandado fazer pela diocese sobre os acontecimentos que culminaram com a morte do sem-abrigo e travesti Gisberta não foi ontem divulgado, como tinha sido anunciado pelo padre Lino Maia. “Não é oportuno divulgar o texto, porque há ainda três inquéritos em curso: um do Tribunal de Menores, outro criminal contra o jovem de 16 anos alegadamente envolvido no crime e o terceiro da responsabilidade da Diocese do Porto”, referiu Lino Maia.
A Diocese do Porto admitiu, a 25 de Fevereiro, substituir a actual direcção da Oficina de S. José, caso se comprovasse alguma responsabilidade directa da instituição no comportamento dos 11 adolescentes ali internados, supostamente implicados no crime.
Até à data ainda nada disse sobre eventuais alterações na direcção da instituição que tutela.
ANTIGOS INTERNOS LAMENTAM
Durante o convívio, e apesar da boa disposição entre os antigos internos da Oficina de S. José, a indignação não passou despercebida. A suposta implicação de 11 jovens da instituição no assassínio do sem-abrigo e travesti brasileiro também foi tema de conversa.
Rui Ferreira, industrial de 53 anos, era um deles. Não compreende como foi possível tão mórbida atitude.
“No meu tempo, a disciplina era rigorosa. Ninguém ousava praticar actos indignos. A nossa única preocupação era aprender uma profissão para arranjarmos emprego. E tínhamos orgulho de pertencer à instituição. Ai de quem prevaricasse. Agora... é o que se vê.”
Rui Ferreira quer que a instituição volte a ser como era, “nem que para isso seja necessário mudar a actual direcção”.