Chelsea Attonley, mulher trans de 30 anos, disse que agora considera que ser mulher é 'exaustivo', sentindo-se cansada de se maquilhar e de usar saltos, e que agora aceita que devia sempre ter permanecido homem.
Chelsea lutou com a sua identidade, enquanto crescia em Chesterfield, Derbyshire, e enquanto criança vestia-se com roupas femininas. Pelos seus vinte anos tornou-se uma drag queen conhecida como Miss Malibu, baseando-se na aparência e glamour da modelo Katie Price como fonte de inspiração.
Uma primeira tentativa para uma CRS foi recusada por um médico, o que enviou Chelsea para uma espiral de depressão.
Então, a ex-drag queen, que na altura copiava o estilo de Jordan, usando uma peruca loira, mini-saias e sapatos de salto alto, teve um encontro casual com a sua ídolo numa boate em 2007. A modelo disse-lhe para "ir em frente" e as suas palavras inspiraram Chelsea para regressar ao seu processo e tentar mais uma vez a CRS, que custa £ 10.000.
Mas agora, sete anos após a CRS, Chelsea quer voltar a ser um homem - e, segundo o tablóide, quer que sejam os contribuintes a pagarem a conta.
Chelsea, que sobrevive pela segurança social britânica, disse a uma revista que se sente exausta de se vestir e agir como mulher e que sente que nunca foi totalmente aceite como uma mulher real.
Ela procura submeter-se a uma redução mamária pelo SNS britânico e a uma dolorosa CRS para voltar a ter pénis “com um custo total de £ 14.000” avisa o tablóide.
Chelsea, que agora vive em Londres, afirmou: "Eu sempre quis ser uma mulher, mas nenhuma quantidade de cirurgias podem-me dar um corpo feminino real e sinto que estou a viver uma mentira. É cansativo maquilhar-me e usar saltos o tempo todo. Mesmo assim, eu não sinto que pareça uma verdadeira mulher. Eu sofria também de depressão e ansiedade, como resultado das hormonas. Percebi então que seria mais fácil parar de lutar contra a minha aparência natural e aceitar que eu nasci fisicamente homem."
Chelsea, que falou no ITV This Morning, no início deste ano sobre o encorajamento dado por Katie Price, diz não se sentir culpada por pedir aos contribuintes para pagar a sua reversão.
"Agora decidi que quero viver como Matthew, estou desesperada para ter os meus seios removidos", afirmou, continuando, “não me posso dar ao luxo de o fazer no privado, por isso espero ter a cirurgia pelo SNS. Não posso trabalhar de momento, porque estou muito incomodada pelo que passei. Penso fazer a reconstrução do pénis também. Não me sinto mal que seja o SNS a pagar as cirurgias pois não as considero como uma escolha. Eu preciso de ter essas operações para o bem da minha saúde mental. Tenho a sorte de viver num país onde existem cuidados de saúde gratuitos”.
Chelsea, que mudou de nome de Matthew em 2008, após uma cirurgia de peito que custou £ 5.000 na Tailândia, parcialmente financiada pelo SNS, gradualmente começou a ter dúvidas sobre a mudança de sexo.
"Pensei que a cirurgia me faria sentir completa, mas isso não aconteceu. Eu sabia que no fundo, mesmo tendo feito a cirurgia, eu ainda tinha nascido homem. Mas tentei o meu melhor para bloquear os meus sentimentos", acrescentou.
Chelsea afirmou que viver como uma mulher é desgastante. "Não importa que maquilhagem colocasse ou como me vestisse, eu sabia que as pessoas não me reconheceriam como uma mulher. Sentia-me a afogar por estar a pensar constantemente sobre como andar e falar como uma mulher. Estava a lutar uma batalha perdida. Quando as pessoas descobriam sobre o meu passado, tratavam-me como uma mentirosa e falsa. Eu sofria de ansiedade e depressão. Não podia manter mais o fingir ser uma mulher. Estava a fazer-me infeliz. Tive que voltar a viver como Matthew.”
Perdeu o apoio da sua mãe quando ela morreu de um ataque cardíaco. Chelsea já teve injeções de testosterona para começar a sua transição para se tornar um homem novamente e para estimular o crescimento de pilosidade e cortou o cabelo.
"Se as pessoas me criticam por querer tratamento no SNS, não me incomoda. Sei que preciso dessas mudanças para ser feliz e ninguém deve negar-me isso."
A TaxPayers' Alliance insistiu que o SNS não deve ter que pagar de novo. O director de pesquisa Alex Wild considerou que: "O SNS deve priorizar serviços essenciais de primeira linha a operações de vaidade ridículas. Toda esta saga simplesmente já custou demais. Se o SNS deve ser financiado adequadamente, este tipo de resíduos devem ser cortados. "
Na comunidade trans, as opiniões dividem-se entre a aceitação da necessidade de consultas psiquiátricas para se evitar estes casos, entre a negação de que a mulher em causa seja transexual ou entre a culpabilização da discriminação transfóbica.
O Grupo Transexual Portugal considera que: “É de reparar que Chelsea nunca afirma que não se sente mulher, o que está implícito no seu discurso é que é a discriminação transfóbica social sobre a sua pessoa que a leva a não se sentir uma “verdadeira” mulher. Discriminação essa bem expressa no artigo do tablóide, que não se cansa de focar o custo inerente às cirurgias que será pago pelos contribuintes, como se as pessoas trans, por o serem, estivessem isentas do pagamento de impostos, como qualquer outra pessoa. IRS, IRC, IVA, pagamos tudo como qualquer outra pessoa. Isto em vez de focarem o fulcro da questão que me parece ser a transfobia de que ela tem sido alvo, independentemente de ter feito a CRS. Claro que outras questões se levantam, como o que é ser-se mulher, por exemplo, algo que tem sido discutido inúmeras vezes e que o continuará a ser por muito tempo, ou o fim do mito muito em uso em Portugal por determinados psiquiatras e psicólogos de que a CRS é irreversível. Não o é e a prova está aqui. Mesmo que a intenção seja a de que não se volta ao que se era, pois há que reconstruir o pénis, está-se a cair no mesmo tipo de discriminação que ela sofreu e que causou tudo isto, pois mesmo com cirurgias nunca se fica com um pleno corpo feminino, não se pode engravidar, por exemplo, não se tem o período, etc. Portanto quando afirmam que não se volta a ser “homem” estão implicitamente a considerar que não são “mulheres” depois de uma CRS.”