De negro vestido, Jardim está de luto pela morte da mãe, e perante mais de 30 mil pessoas, atirou-se ao primeiro ministro, José Sócrates, e ao seu executivo, responsável pelas restrições financeiras, "um garrote económico", aplicado à Madeira.
"Eles viram que pelo debate político não nos podiam destruir. Nunca pensei que Portugal chegasse a este estado de coisas. O que nos estão a fazer é miserável, miserável", repetiu. Mas "estão muito enganados. Nunca na nossa história cedemos a chantagem. Apesar deles (no Continente) serem antifacistas, sem nunca terem pegado numa espingarda , quem fez durante 29 dias a revolução contra Salazar (em 1934) foram os madeirenses e não aqueles maricas", disse. As palmas abafaram o final da frase do líder. O calor abrasador do planalto secava a garganta e uma brisa quente soltava a poeira. Jardim continuava na boca de cena, à sombra, com banda sonora de filme épico em som de fundo, e o dedo apontado aos alegados opositores da autonomia, "os chamados colaboracionistas, gente (natural da ilha) que está sem calças e de rabo para o ar virado para Lisboa... políticos locais que andam a defender o garrote económico" contra a região mais "jornalistas, daqui da Madeira, que, em Lisboa, escrevem as maiores mentiras".
Jardim enviou um aviso para dentro do partido. É preciso não dar espaço às "intrigas e invejas", "temos de estar sempre juntos. Eles sabem que este PSD/M não rebenta com os adversários mas por dentro. Suceda o que suceder, há um pacto de sangue entre os autonomistas social-democratas", advertiu.
Jaime Ramos, secretário-geral do PSD, tinha, minutos antes, distribuído ataques de rajada entre "o golpista Sampaio", "o homem que colocou os socialistas no poder", e o "Zé mentiroso, Zé arrogante, Zé infeliz, Zé Aldrabão, Zé Sócrates". Alberto João Jardim quis"atirar à cara de muita gente que, no Continente, nos vilipendiou" que "sempre defendemos a autonomia no seio da Nação Portuguesa, sempre fomos fiéis à Pátria e nunca separatistas ou violentos". Por tudo isso, "não admitimos que digam mais mentiras. A nossa resistência é pacífica" com base nos "ensinamentos de Gandhi" e "vamos levar por diante o nosso projecto".
Jardim volta a reivindicar autonomia mais alargada, um anteprojecto para a revisão constitucional de 2009, deixando para o poder central a política externa, os tribunais de recurso e os direitos liberdades e garantias individuais. "O resto tem de ser direito dos madeirenses e não um direito colonialmente imposto por gente em Lisboa que é incompentente", disse.
Neste âmbito, catalogou o socialismo como "religião de Estado", professada pela "classe política de Lisboa e os jornalistas ao seu serviço de propaganda, celebrada no altar das inutilidades". Por arrasto, Jardim falou da "massificação", do aparelho de justiça, da "palhaçada" da educação, a cultura "importada", da "aldrabice" das polícias e da investigação, do regresso de um estado "pidesco".
Jaime Filipe Ramos, o líder da JSD, acusou Sócrates de fazer "terrorismo contra a Madeira".