Dalia Abdel-Hameed, pesquisador de direitos de género da Iniciativa Egípcia para Direitos Pessoais, descobriu dezenas de relatórios policiais. Nos relatórios, é estabelecida uma técnica de "apanha" em que os alvos são seduzidos usando aplicativos como Grindr ou Scruff.
No Egipto as conversas nos aplicativos podem ser usadas como prova em tribunal. Como resultado muitos LGBT no país têm desactivado os aplicativos e até apagado perfis em redes sociais. Mas, tal como explicou Scott Long à Vice, embora os aplicativos sejam pouco seguros devido à possibilidade de utilização abusiva por parte da polícia a verdade é que "as oportunidades de contacto pessoal são tão limitadas" que não restam muitas alternativas.
A situação chegou a tal ponto que grupos locais de defesa dos LGBT realizam ações específicas para ajudar as pessoas a usar os aplicativos de forma mais segura, por exemplo nunca revelando nomes reais, encontrar pessoas apenas após confirmação por amigos, etc.
As próprias aplicações também reagiram à situação: quer no caso do Scruff quer do Grindr a possiblidade de saber a distância a que se encontra outro utilizador é desactivada em países com políticas repressivas de LGBTs. O Grindr envia todas as semanas avisos e notificações sobre situações potencialmente complicadas, e o Scruff tem também avisos de viagem para países específicos.
Detidos por homossexualdiade
No início do mês, quatro pessoas foram presas pela homossexualidade no Egito. O tribunal de delitos do Haram condenou os réus a três anos de prisão dia 28, por atos "inconsistentes com a moral pública e por homossexualidade". Os referidos atos terão sido cometidos num apartamento em Hadayeq al-Ahram, Gizé, perto das famosas pirâmides do país, de acordo com o jornal egípcio Independent. A polícia disse ter recebido um mandato de prisão do Ministério Público antes de fazer as detenções, e que afrodisíacos e brinquedos sexuais foram confiscados no local.
Onda de repressão
As pessoas condenadas, cujos géneros e nomes ainda não foram revelados, foram detidas na sequência de uma onda de repressão contra a comunidade LGBT no país.
Os primeiros relatos desta repressão são do mês passado, depois de bandeiras do arco-íris terem sido desfraldadas num concerto da Mashrou Leila, cujo cantor é abertamente gay. Os média reagiram ao evento ampliando os sentimentos anti-LGBT e um apresentador de TV, Ahmed Moussa, no horário nobre disse: "A homossexualidade é um crime tão terrível como o terrorismo".
Como resposta as autoridades fizeram rusgas regulares contra pessoas LGBT e já terão sido detidas mais de 60 pessoas. Dez pessoas detidas imediatamente após o concerto já foram sentenciados a seis anos de prisão cada, por "deboche". Pelo menos cinco dos detidos foram sujeitos a exames anais pelas autoridades forenses. A pena máxima por atos imorais é de 17 anos e pode ser aplicada também a pessoas que "promovam" ou "apoiem" LGBTs, como aconteceu a uma mulher detida por ter desfraldado uma bandeira arco-íris.
Na semana passada as autoridades proibiram os média de notificar qualquer detalhe sobre o assunto, e declararam que a homossexualidade só pode ser representada nos média, incluindo entretenimento, quando seja claro que a "conduta é inadequada ou se arrepende" dos atos realizados.