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Sexta-feira, 23 Setembro 2011 10:38

PORTUGAL
QueerLisboa 15 - As Curtas também dão cartas



PortugalGay.pt

O dia quinta foi sem duvida o dia das curtas, o conjunto de "Curtas Metragens 2" composta por seis filmes, foi uma agradável surpresa.


Eu não quero voltar sozinho

Uma história que nos mostra que o amor não tem limitações, mas sim desafios. Um estudante cego que frequenta o ensino regular, e que quando entra um novo aluno para a turma ele sente algo que até então não tinha sentido. Este jovem cego, tem uma amiga que talvez por simpatia, talvez porque sempre o acompanhou a casa, talvez porque eram amigos de longa data, ou talvez por nenhuma destas coisas ela também gostava dele. Aquele novo aluno veio abalar as estruturas e a vida de Leonardo (jovem cego) que se deixa enamorar por Gabriel (o aluno novo), e dada a sua amizade por Giovana (sua amiga de sempre) conta-lhe que está apaixonado. Vê-se nesta curta de 17 minutos, a forma algo diferente de sentir o amor, e ao mesmo tempo a importância de uma amizade.

Love 100ºC

De novo a deficiência está presente, desta feita a surdez, um jovem coreano, usa a net para satisfazer as suas fantasias. O filme desenrola-se na Corea do Sul, e numa ida a banhos numa sauna ele, Min-soo, é abordado pelo jovem que dá massagens esfoleantes. Depois da oferta, o jovem quer mais. Passam a encontrar-se na sauna onde tem sexo, diria escaldante, daí o título. Este filme, mais uma vez, mostra-nos uma realidade que está ao nosso lado todos os dias mas que raramente a vemos, o jovem Min-soo vive além da sua surdez uma orientação vista pela sociedade como clandestina, e não compreendida pelo seu irmão mais velho que não entende a mudança de humor de Min-soo. A alegria dele termina quando numa das suas visitas a esta sauna, vê o seu amante a ser agredido por alguém que descobre a sua orientação e Min-soo não é capaz de intervir, o quadro final, Min-soo sentado na sauna seca em posição de ventre (vertical) a chorar, é uma imagem triste e de lamentar que ainda exista quem possa ser infeliz apenas porque a sociedade não aceita a sua orientação sexual.

Harvest

Mas hoje houve ainda uma longa-metragem que pela sua simplicidade é brilhante, tão brilhante que para alguns de nós com as devidas correcções podia ser o retrato da nossa vida ou da vida de alguém que conhecemos ou ouvimos falar.

Extraordinariamente bem conseguido, este argumento fala-nos de um jovem homossexual (Marko) que vive e trabalha num meio rural, em Nuthe-Urstrom, 60 kms a sul de Berlim. Vive algo isolado, para além do trabalho não existe mais nada, nesta fazenda que serve de escola de formação profissional. Chega outro jovem de seu nome “Jacob”. Os dois logo que cruzam o olhar ficam inquietos, e Marko não sabe como lidar com isso, aproxima-se e afasta-se consecutivamente até ao primeiro beijo. Este passo dá a Jacob a certeza dos sentimentos de Marko sobre ele e vice-versa e então é Jacob que decide esperar por Marko à porta de casa dele e leva-lo a Berlim para um passeio. É nesse passeio que os dois brincam, se conhecem e se amam. No regresso há quinta eles desencontram-se no trabalho e quando no final do dia se reencontram, o nosso tímido e isolado Marko a única coisa que faz é aproximar-se de Jacob e abraçá-lo. Este é o quadro final, um quadro lindo, simples, e mais que suficiente para numa imagem dizer um milhão de coisas.

Este é mais um filme que como os que hoje vos descrevo, mostra o isolamento como um factor de repressão, aqui provocado pela geografia, e por uma demografia conservadora, enquanto nos restantes o factor mais forte é a deficiência.

Harvest é apenas mais um filme digno de qualquer colecção cinematográfica, pela sua veracidade e simplicidade.

The Life and Death of Celso Júnior

O dia só ficou completo depois de assistir ao documentário sobre aquele que foi o fundador do então Festival de Cinema Gay Lésbico de Lisboa, o actual Queer Lisboa, que vai na sua decima quinta edição.

Um documentário que mostra a paixão, o amor, o fetiche, que Celso tem pelas suas botas, pelos seus perto de 600 pares de botas.

Celso descreve as botas como guardadoras de almas, como mensageiras de uma personalidade, a daqueles que as calçaram um dia, mas também como contadoras de histórias, porque quando as compra novas não as compra porque sim, mas porque elas cada um dos pares que detêm, tem uma razão para estar na colecção de Celso Júnior, e as que não tem, Celso está a oferecer.

É também o retrato de alguém realizado, de alguém arrumado consigo e com o mundo.

A meu ver a única coisa que faltou, foi a sala cheia, as perto de duas dezenas de pessoas que assistiram ao filme, embora fosse aquilo que Celso chamou dos "amigos do metro quadrado", faltou na sala todos os outros que devem a este homem um Festival de projecção internacional.

Faltou homenagear este homem, pelas privações que passou, pelos sapos que teve de engolir, para dar a esta capital e a este país um dos mais importantes festivais Queer da Europa. Penso que foi isso que faltou, porque de resto estava lá tudo, até a performance que Celso nos brindou, despindo-se l-i-t-e-r-a-l-m-e-n-t-e de preconceitos mas nunca despido das suas botas, no final Celso Júnior apresentou-se com um dos seus criativos casacos de botas, peruca ruiva, despido, verdadeiro, apaixonado, ele mesmo!

Mais dois dias de festival...

Ainda vai a tempo de ver algo deste festival que termina este sábado, vejam o que pode interessar em www.queerlisboa.org e apareçam!

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