"European men who have sex with men - Internet Survey", ou EMIS, é o nome do estudo europeu que decorreu em 2010 em Portugal e mais 37 países, onde se pretendia saber mais sobre a consciência e as práticas dos homens que tem sexo com homens. Este estudo teve o GAT - Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos VIH/sida, como responsável pela coordenação do projeto a nível nacional.
Maria José Campos, em representação do GAT, disse que foi um estudo muito entusiasmante porque seguiram a par e passo a entrada das respostas aos inquéritos que estiveram disponíveis nas redes sociais em plataformas várias desde os sites associativos a blogs, e que como seria de esperar o Portugalgay.pt fez parte. Portugal teve a participação de 5187 pessoas e destas cerca de 7 em cada 10 identificou-se como sendo homossexual seguidos por cerca de 2 em cada 10 de bissexuais, entre as percentagens uma constatação a nível identitário: 7,1% dos inquiridos disse não ter nenhum termo para identificar a sua orientação sexual. Curioso o facto de que embora o estudo fosse sobre homens que têm sexo com homens, mais de metade dos inquiridos já teve sexo com mulheres, e 15% fizeram-no nos últimos 12 meses.
Um outro dado importante que pode segundo os investigadores de alguma forma afastar as pessoas do conhecimento do seu estado serológico é o fato de 61,7% ainda viver “dentro do armário”.
Contudo e da mesma forma que a Drª Maria José Campos falava com entusiasmo do número de participantes também mostrou preocupação em relação aos resultados e lançou a ideia de que este tipo de inquérito “talvez mais reduzido” deve ser feito de dois em dois anos, e lançou o olhar para o Dr Henrique Barros um dos coordenadores do estudo atual presidente do ISPUP e antigo responsável pela Coordenação Nacional para a Infeção pelo VIH/Sida.
Henrique Barros mostrou-se igualmente preocupado com os resultados apresentados e que demonstram uma necessidade premente de encontrar novas formas de abordagem da população na prevenção da infeção pelo VIH. Pergunta-se no estudo se usou preservativo numa penetração anal com parceiro estável e com parceiro ocasional. No caso de parceiros estáveis 60% fez sexo anal não protegido e no caso de parceiros ocasionais este número atinge quase 1 em cada 4 dos inquiridos.
O estudo não se focava apenas na infeção pelo VIH e uma elevada percentagem disse não estar ou estar parcialmente vacinado contra outras infeções sexualmente transmissíveis.
Necessárias novas abordagens
O número de infetados pelo VIH já esteve em Portugal controlado e até foi um dos números mais baixos os relativos a este grupo de pessoas contudo diz Henrique Barros que estes resultados provam um “reassumir de um à vontade” perante a infeção levando a práticas sexuais não protegidas. Diz que o que as organizações de prevenção andam a fazer “não pega” é preciso novas abordagens e entre elas apresenta a toma de antiretrovíricos antes das relações sexuais, a chamada profilaxia pré-exposição our PrEP. E se é preciso começar a trabalhar neste sentido, infelizmente ainda há trabalho necessário na profilaxia pós-exposição: em Portugal há médicos, nomeadamente nas urgências, que desconhece e ou está pouco sensível à possibilidade de terapia após uma exposição inesperada ao VIH.
Diz ainda o presidente do ISPUP que é importante entrar de novo na comunidade LGBT, bares e outros espaços de encontro no sentido de instruir para a prevenção, explicar que a infeção tem tratamento mas não tem cura. Um trabalho que diz tem de abranger as organizações LGBTI porque esta não é uma tarefa que se coaduna com o “nine to five” das instituições formais de saúde."
Henrique Barros propõe ainda a instalação de estruturas similares ao CheckpointLX de Lisboa nas outras grandes cidades.
O estudo está disponível para consulta no site do ISPUP.