O jurista espanhol Javier Vilalta foi acusado de esconder a sua “homossexualidade” de sua ex-mulher, de quem se separou amigavelmente em 2009. Eles estavam casado há três anos, mas tiveram um relacionamento dos 16 aos 34 anos.
Javier Vilalta disse ao El Salto que quando se casou via-se como heterossexual e era assim que se sentia.
Como resultado do meu divórcio, tive dúvidas sobre a minha personalidade e com um terapeuta descobri que era bissexual. E disse isso à minha ex-mulher em 2016. Javier Vilalta
Eles tinham uma relação de amizade depois do divórcio. A mulher decidiu então entrar com uma ação legal uma década depois do seu divórcio, quando amigos em comum disseram a ela num jantar que Vilalta “sempre foi homossexual” pois teria tido relacionamentos com homens antes e depois do casamento. Ela disse ao tribunal de Valência que nunca teria se casado com ele se soubesse da sua "verdadeira sexualidade", alegando que seu ex-marido a havia usado "como refúgio social" para esconder a sua sexualidade.
Ela exigiu a anulação da união e 10'000 EUR de compensação pelo suposto engano. No processo apresentado numa é sequer considerada a possibilidade de Vilalta ser bissexual.
Por seu lado, o advogado de Vilalta afirmou que a sua ex-esposa nunca foi enganada de alguma forma e que a sexualidade dele não o impedia de ter um relacionamento completo com uma mulher.
Mesmo que admitamos que Javier teve um relacionamento com um homem no passado, em qualquer caso, não há razão para que uma pessoa bissexual não possa ter um casamento feliz Advogado de Javier Vilalta
No entanto, o juiz teve opinião contrária e ordenou-lhe que pagasse à sua ex-mulher 1'000 EUR por cada ano de casamento - um total de 3'000 EUR por ter "ocultado deliberadamente" a sua homossexualidade.
O julgamento foi vergonhoso e a sentença uma bofetada na cara Javier Vilalta
Javier Vilalta está frustrado porque o juiz não pareceu levar a sua sexualidade a sério e não considerou como a orientação sexual pode evoluir com o tempo. A situação chegou ao ponto da advogada da ex-mulher ter pedido provas testemunhais de mulheres que tenham tido relacionamentos com Vilalta.
Vilalta explicou que há muitas evidências sobre esta evolução e fluidez, como a escala de Kinsey, que deixa bem claro que sua sexualidade é algo dinâmico desde o momento em que nascemos. Mais do que isso, ele está preocupado com o precedente legal que seu caso estabelece, sugerindo que muitas pessoas queer “agora têm medo de sair do armário” por terem tido relacionamentos heterossexuais.
Ele explicou ao El País que o mais grave desta situação toda é que estamos testemunhando "um julgamento moral", que viola vários direitos fundamentais, e o fato de o julgamento ter sido realizado mostra que não há liberdade nem igualdade sexual, e que a homossexualidade ou a bissexualidade podem ser penalizadas.
Entretanto o caso gerou uma onda de solidariedade incluindo petições para que o governo central de Espanha proíba o "julgamento de orientação sexual" nos tribunais.