Uma frase que por si só mostra quão frágil é a vida das pessoas LGBT na Rússia que durante os jogos apenas se encontra em banho-maria para depois entrar em ebulição.
As autoridades olímpicas tem insistido que a sua carta proíbe a discriminação e que tiveram garantias do governo Russo que a mesma será aplicada durante os jogos em Sochi. Mas na realidade repetem-se as noticias de prisões e interrogatórios de pessoas que de alguma forma chamam atenção para as questões LGBT no decorrer dos jogos, como foi recentemente o caso de Vladimir Luxuria a ex-deputada italiana. Ivan Simoch, líder do Heterosexuals Supporting LGBT Rights em Moscovo defende que não existem tais garantias por parte da Rússia. Diz Simoch “os gays são proibidos de dizer que o são, a lei tornou-se a política de um estado homofóbico”.
No tempo da União Soviética a homossexualidade era ilegal, foi depois descriminalizada na Rússia em 1993. Mas a não-discussão do assunto acarretou atrasos nos avanços dos direitos LGBTs e numa geração criada pelo ódio e homofobia, patente nos ataques de que as pessoas LGBT são alvo, onde os bullys são muitas vezes da geração USSR e devotos religiosos.
Um inquérito desenvolvido pela Russian LGBT Network com 2437 gays realizado no primeiro semestre de 2013, aponta que 56% dos gays russos já sofreram assédio psicológico por serem homossexuais, 16% já foram agredidos fisicamente, 7% sofreram violência sexual e 8% foram detidos em razão da orientação sexual. Reflexo do clima de homofobia institucional a população LGBT não acredita na polícia (77%) o que faz que grande parte não registe as ocorrências junto das autoridades.
A exemplo do que já houve nos jogos olímpicos de inverno em Vancouver, o presidente da Federação Russa do Desporto LGBT em Moscovo, Konstantin Yablotskiy, esperava ter em Sochi a “casa do orgulho” para receber os visitantes LGBT mas o seu pedido foi recusado. Para Yablotskiy está tudo na mesma “o que vai acontecer depois dos Jogos Olímpicos, vamos ver. As pessoas estão muito assustadas. Para muitas pessoas LGBT penso que a situação vai piorar após a Olimpíadas. Há um pânico na comunidade, especialmente entre os que já saíram do armário e não escondem a sua orientação, bem como os mais interventivos”. E Yablotskiy acredita que a situação das pessoas LGBT na Rússia só pode melhorar com a ajuda de fora do país.