A exclusão, ou inibição por parte da Igreja à comunidade homosexual sempre gerou controvérsias, mais que não seja pela doutrina de todos somos bem-vindos ao reino de Deus, mas parece que nem todos podemos participar e celebrar Deus enquanto andamos no reino terrestre. Em Castanheira de Pera, situada na Diocesa de Coimbra, o jovem João Maria foi afastado de exercer as suas funções como maestro de coro e participar nas acções da Igreja pelo padre da paróquia. O afastamento do jovem provocou indignação na comunidade que está do lado do jovem João Maria.
O PortugalGay esteve à conversa com João Maria e tentou saber melhor o que se passou e a sua reacção perante o sucedido.
PG - João há quanto tempo estavas no coro e participavas activamente nos assuntos da diocese?
JM - Canto na Igreja desde os oito anos, houve alturas em que me ausentei, mas sou director do coro há seis anos e meio.
PG - qual é a tua idade neste momento?
JM - 21
PG - Qual foi o motivo que te levou a revelar a tua sexualidade ou a assumires a tua relação com alguém do mesmo sexo?
JM - Eu não assumi, não neguei e não escondi, as coisas foram acontecendo, eu não escondo, o meio é pequeno e as redes sociais esclarecedoras.
PG - Como te sentes depois da decisão do teu afastamento pelo padre e a diocese?
JM - Existe em mim uma revolta muito profunda, mas ainda não acredito, quando tudo acalmar vou cair em mim, claro, mas isto é uma rotura profunda com o meu ser e estar. Eu participo na Igreja desde muito novo, e dediquei grande parte do meu tempo e da minha vida e não apenas em Castanheira.
PG - Soubemos que comunidade paroquiana e os restantes membros do coro parecem estar do teu lado. Como te sentes ao saber disso?
JM - Surpreso, não tanto pelo coro mas muito pela comunidade, sinto que o meu trabalho é reconhecido por todos e creio ser essa chave dessa ligação entre mim e a comunidade e o seu apoio.
PG - E os membros do coro?
JM - Eles decidiram protestar ou manifestar-se, usando uma indumentária preta com uma faixa branca nas missas.
PG - Tens também o apoio da tua família e do teu companheiro?
JM - Claro, estão do meu lado.
PG - Acreditas que poderás voltar a exercer a tua função ou voltar ao coro?
JM - Tenho esperança, mas eu conheço a Igreja, e a Igreja é vingativa e com as noticias não estão nada contentes.
PG - Achas que a Igreja tem evoluído e mostrado mais abertura perante a comunidade gay? O Papa tem revolucionado um pouco o que fora feito pelos seus ancestrais?
JM - O Papa sim, mas a Igreja Católica portuguesa não se dá muito bem com o Papa Francisco, são muito mais conservadores.
PG - João como te sentes agora que a tua revelação é pública?
JM - A exposição é sempre desnecessária, mas os dias são iguais aos outros, antes já o sabiam agora só o afirmam de forma mais clara e aberta.
PG - Para finalizar, existem muitos jovens que reprimem a sua sexualidade e que vivem no medo de serem descobertos e receiam perder o emprego ou serem discriminados por isso mesmo, o que dirias a um jovem como tu, numa situação idêntica ou parecida com a tua?
JM - Não podemos deixar de acreditar nos nossos valores pessoais e morais. O amor que sentimos em nós e pelos outros é bom. Nada vale mais na vida do que sermos verdadeiros e autênticos, pois só assim conseguiremos ser felizes.
PG - Obrigado João por partilhares connosco a tua história.
JM - obrigado eu pela oportunidade e pelo apoio.
Notícia atualizada às 20:57, corrigindo a grafia de Castanheira de Pera e clarificando que pertence à Diocese de Coimbra (não Distrito).