As primeiras pessoas começavam a chegar para uma noite que prometia animação até às 8h da manhã. Era toda uma noite pela frente que , lentamente, se ia desenhando. Por entre a calma do início de uma festa que se esperava animada João Paulo, da Portugal Gay e organizador do evento, fala de uma celebração em que "a parte solidária faz toda a diferença". A acção beneficiente que realiza em prol do hospital Joaquim Urbano acaba por marcar a iniciativa que, durante as quatro edições já realizadas, doou à Liga dos Amigos do Hospital Joaquim Urbano mais de 10 mil euros.
À medida que a madrugada se ia anunciando e o espaço se ia compondo, notava-se a presença de alguns casais heterossexuais, algo que João Paulo refere que se tem vindo a vulgarizar desde que a iniciativa teve a sua primeira edição. Em 2001, pela primeira vez a bordo de um barco no Douro, agora , com os pés bem assentes na terra, a Porto Pride marca a vivência da comunidade LGBT na Invicta. Ainda na semana passada alguém gritava em Lisboa, na marcha do Orgulho Gay: "Para a semana é no Porto".
Mas, no Porto, a celebração encerra-se entre quatro paredes. Cá fora, pela rua despida sobressaíam as luzes à entrada do teatro, mas festa só lá dentro. João Paulo, apesar de afirmar que é "um péssimo exemplo pela positiva" porque nunca se considerou alvo de descriminação no Porto, não deixa de acreditar que "vivemos numa sociedade hipócrita".
Passar do refúgio das quatro paredes para a rua é algo que terá de esperar. Para muitos LGBT "dar ou não a cara é uma questão de sobrevivência. A maioria dos LGBT se perdem o emprego perdem o sustento". No entanto, João Paulo não hesita em dizer que "o Porto está hoje mais aberto".
Por entre os casos de homofobia com que, de vez em quando, o país nos presenteia, "o Porto e Portugal lidam hoje com mais naturalidade com a questão da homossexualidade", comenta João Paulo. E, um dia depois da aprovação do casamento entre homossexuais e da adopção na vizinha Espanha, ao mesmo tempo que João Paulo confessa que "hoje queria lá estar para festejar", acredita que "o mesmo poderá acontecer em Portugal ainda nesta legislatura".
Enquanto a música vai subindo de tom e já se anuncia o primeiro espectáculo da noite, pelo espaço do teatro Sá da Bandeira e pelos corredores a movimentação torna-se mais insistente. Lado a lado com a festa, sobressai a propaganda política. Pelas bancas do Partido Humanista, da S.O.S Racismo, da associação Não Te Prives, do Grupo de Reflexão e de Intervenção do Porto (GRIP) e da Rede Ex - Aequo amontoam-se chamadas de atenção para o direito à liberdade sexual por entre bolo de chocolate e preservativos.
Associações como a Não Te Prives, o GRIP e a Rede Ex-Aequo têm uma componete essencialmente juvenil porque "é complicado para um jovem lidar com a sua própria homossexualidade", conta Cristina Nunes da rede Ex-Aequo. No fundo, a homossexualidade passa por uma descoberta porque "é algo que está cá dentro e que não passa por uma opção, é uma orientação", explica João Paulo da Portugal Gay.
E as horas foram passando por um espaço por onde circularam perto de duas mil pessoas. Uma madrugada que levou ao palco do Sá da Bandeira, entre muitas outras actuações, Diana Prince e uma plateia incendiada pela vivacidade do flamenco.
[Mariana Teixeira Santos]