A socióloga, que há seis anos trabalha com menores internados na instituição tutelada pela Diocese do Porto, é muito crítica do trabalho desenvolvido na OSJ. "Não tem saber nem condições para implementar um trabalho educativo que as crianças que ali vivem necessitam. Falar em maus tratos nem sempre é falar de violência física. Há outras formas", considerou.
Os rapazes "ficam sem vínculo a ninguém" e, por isso, acontecem casos como as agressões à transexual Gisberta, na qual estiveram implicados onze menores da OSJ. "Não há conversa nem socialização. É um mundo segregado. Fazem-nos viver num gueto", denunciou, exemplificando que durante o mês de Agosto mais de uma dezena de adolescentes permaneceu nas instalações da OSJ sem poder sair e sem ter qualquer tipo de actividades. "É um atentado." Cidália Queirós acusou mesmo a direcção da instituição de não querer formar os monitores. "Nunca quiseram técnicos. Só admitiram porque a Segurança Social os ameaçou de fecho", disse.
Quando uma psicóloga e uma assistente social ali foram colocadas, há dois anos, rapidamente se aperceberam das deficiências. Procuram corrigir, mas depararam-se sempre com obstáculos. "Os monitores não têm preparação e a Oficina nunca esteve interessada em dar formação", adiantou.
Com o caso Gisberta, as preocupações aumentaram. "A partir daí, tivemos várias reuniões, mas nunca davam em nada", disse, garantindo que "houve situações que originaram mesmo mal-estar", como quando descobriram que um monitor, protegido pela direcção, ficava com objectos dos miúdos ou quando as pessoas, voluntárias, que levavam crianças para passar o fim-de-semana foram proibidas de o fazer. "Há castigos indiscriminados", acusou Cidália Queirós, acrescentando ainda que a nível higiénico há também graves deficiências.
Perante isto, a directora da Qualificar para Incluir acha surpreendente o Instituto da Segurança Social afirmar que a OSJ cumpre todas as normas. "Não sei entender isso. A Segurança Social tem obrigação de saber de tudo", considerou, apelando a que a instituição promova a "transparência e deixe de viver em secretismo". "Há dinheiros públicos envolvidos", apontou. Por cada menor, as instituições de acolhimento recebem cerca de 400 euros.
Entretanto, a família da transexual Gisberta Salce, anunciou que autorizou uma advogada a reclamar uma indemnização ao Estado Português. O objectivo é accionar o Fundo de Protecção das Vítimas de Crimes Violentos, que é tutelado pelo Ministério da Justiça.