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Reportagem

Conferência Mundial ILGA 2001 em Oakland, EUA

Reportagem Especial


Por Rex Wockner para o PortugalGay.PT

Cerca de 100 representantes de associações GLBT de 40 países dirigiram-se para Oakland de 27 de Agosto a 2 de Setembro na 21ª Conferência Mundial da International Lesbian and Gay Association (ILGA). Estiveram presentes representantes da Argentina, Austrália, Chile, China, Costa Rica, Estónia, Equador, Guatemala, Índia, Jamaica, Líbano, Malásia, Máxico, Nepal, Nova Zelândia, Paquistão, Paraguai, Peru, Roménia, Rússia, Filipinas, Polónia, Eslovaquia, África do Sul, Sri Lanka, Venezuela e Zimbabué -- assim como de diversos países da Europa Ocidental, Canadá e dos EUA.




ILGA menos Eurocêntrica

Segundo o Secretário Geral Kursad Kahramanoglu, "A ILGA era muito Eurocêntrica. Neste edição temos tantos europeus como não europeus. No passado, mesmo quando as conferências mundiais da ILGA eram fora da Europa apenas tinhamos europeus. Este ano não são a maioria".

A Conferência realizou-se no Oakland's Federal Building, no State Building e na Câmara Municipal, tendo tido a presença do Presidente da Câmara Jerry Brown, antigo Governador da Califórnia e candidato presidencial.

Na recepção de gala na praça da Câmara Municipal, Brown afirmou: "Apreciou pessoalmente o vosso trabalho. Estou aqui em solidariedade convosco e com aqueles que não estão aqui mas que sofrem devido ao preconceito da homofobia e a discriminação numa violação dos direitos humanos neste país e muitas vezes em outros locais - espero que esta reunião e o trabalho conjunto de todos possa virar esta maré e que algum dia haja justiça para todos quer sejam gays, lésbicas, transgender, bissexuais, negros, latinos, asiáticos, ou outra coisa qualquer. Eventualmente a família humana terá de se unir."


Uma Oportunidade Única

As conferências da ILGA reunem a "fina nata" dos activistas GLBT, afirmou Cynthia Rothschild, membro da direcção da ILGA Mundo e da Amnestia Internacional nos EUA. "A ILGA disponibiliza uma ambiente único para as pessoas que estão no coração do movimento."

"Termino esta conferência com uma maior sensibilidade em relação às lutas fora do meu próprio país e das organizações a que pertenço. Saio da conferência com novas parcerias políticas. É rejuvesnescedor. Fortalece o nosso trabalho quando voltamos a casa. Construimos equipas para trabalhar em diferentes áreas e isto é particularmente interessante." concluiu Rothschild.

No entanto isto não significa que a ILGA não tenha a sua dose de desorganização, anarquia e mesmo algumas desavenças políticas.


ILGA anárquica e caótica

"A ILGA é tão anárquica e caótica", afirma Ashok Row Kavi, o mais conhecido activista gay Indiano. "Os Europeus não estão interessados em dar muito poder à América Latina e à Ásia. Na Índia temos trabalhado para ter uma grande rede de contactos, tal como a ILGA, e é tão má quanto a ILGA - na organização dos indianos. Se juntarmos três indianos teremos três partidos políticos."

E a conferência reflectiu esta desorganização. O número de participantes foi reduzido, algumas das workshops previstas não foram realizadas, os participantes tiveram problemas a encontras as salas de reunião, algumas sessões degeneraram em guerras internas, e para completar o quadro os seguranças do Federal Building, onde a maioria das sessões foi realizada, afirmaram que desconheciam a reunião e confiscaram as câmaras dos jornalistas como ameaças à segurança nacional.


Os novos desafios

"A ILGA tem um grande desafio pela frente porque outras organizações internacionais estão a crescer", afirmou Jordi Petit de Espanha, antigo Secretário Geral da ILGA. "O único caminho a tomar é juntarmo-nos a essas redes internacionais. Precisamos de trabalhar juntos na defesa dos nossos direitos, por exemplo contra a oposição Islâmica. Também precisamos do apoio do chamado "pink business". O movimento de voluntariado gay e lésbico não pode por si só suportar o futuro da ILGA."

Tendo em conta que a sua primeira função é funcionar como rede de ligação de activistas GLBT distantes, a ILGA também tem a competição da parte da Internet.

"Podemos fazer agora num segundo coisas que há alguns anos demoravam semanas a meses como, por exemplo, a situação dos 52 homens presos no Egipto por estarem num bar gay", afirmou Petit. "O governo egípcio teve de desligar o seu sistema de email devido aos milhares de mensagens de protesto e solidariedade de activistas gays e lésbicos de todo o mundo."


O Terceiro Mundo

Oscar Atadero, presidente da ProGay, a Organização Progressista de Gays nas Filipinas, acredita que a ILGA pode ganhar algum do seu "prestígio" ao extender ainda mais a sua influência aos GLBTs do Terceiro Mundo. "Como organização a ILGA é uma confusão." afirmou Atadero. "Mas, para mim, é muito revigorante ver muitos mais representantes do Terceiro Mundo. Estamos a fazer com que nos ouçam. Acho que a ILGA perdeu algum do seu prestígio ao longo dos anos. O meu conselho, mesmo que sem ter sido pedido, é que se realmente querem restaurar ou reinventar a sua importância, devem haver mais conferências da ILGA fora dos países desenvolvidos. A ILGA pode ter um impacto profundo nas capitais de países em desenvolvimento. É nestas que a recção, o conservadorismo e a violência contra os gays continua e não é combatida. Colocando as conferências nestes locais iria injectar sangue novo e uma nova missão na ILGA. Aqui [nos países desenvolvidos], acho que estamos a chover no molhado".


Representantes de outras realidades

Já para a representante Kim, da única organização lésbica de Beijing, China, a conferência da ILGA foi inspiradora mas demasiado avançada. "Está muito longe da minha realidade," afirmou. "Algumas das workshops foram muito úteis, como por exemplo, a de angriação de fundos e como lidar com os média. Mas por enquanto é claro que essas não são as nossas preocupações, mas é muito inspirador e interessante aprender mais sobre estas questões. A maioria dos temas abordados são demasiado avançados - são temas do hemisfério norte. Estamos a tentar colocar mais temas dos hemisfério sul na ILGA." O grupo de Kim, as Irmãs de Beijing, tem 4 membros. Ela pediu para que o seu nome de família não fosse publicado.

Tariq, do Paquistão, não sabia sequer o que pensar. Nunca tinha estado fora do Paquistão, uma nação Islâmica onde a vida gay está limitada a alguns locais de cruising estremamente cuidadoso em parques e lobbies de hoteis. Descobriu a ILGA na Internet e foi convidado para a conferência. Ter qualquer tipo de organização gay no Paquistão - política ou social - seria "perigoso e impossível", afirmou, "devido à tradição, à religião e ao sistema legal." Ele e os que descreve como "pequeno número" de amigos gays têm festas privadas? "Impossível", afirma. "É sancionado legalmente." Quanto um jornalista se ofereceu para mostrar a Tariq o bairro gay Castro de São Francisco, Tariq mostrou-se perturbado com a sugestão excepto se o jornalista tivesse alguns "contactos" na área.


Em 2003: Manila, Filipinas

Se bem que a participação na conferência deste ano tenha sido reduzida em comparação com o número de participantes europeus do anos 80 e 90, está já planeada uma nova reunião em 2003 nas Filipinas. Esta conferência poderá trazer mais participantes se, conforme sugeriram alguns participantes europeus, a baixa participação deste ano se deva ao câmbio desfavorável do Dolar para os Europeus. Os participantes do Terceiro Mundo e das antigas nações comunistas normalmente participam graças a bolsas enquanto que os participantes das nações desenvolvidas tem que pagar todos os custos.

Mais informações sobre a conferência de Manila e outras actividades da ILGA Mundo no email: ilga@ilga.org.

 
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