Mar 2010
Olhando em redor, tento encontrar as palavras que expliquem… Porque sou como sou, porque sinto o que sinto. Tento ser tudo aquilo que esperam que seja, cumprir com todas as expectativas… Mas só me apetece gritar, fugir, ver-me livre de toda a mentira que tomou conta da minha vida! Quero ser feliz! Quero ser EU! Sem receios, nem vergonhas. Eu a 100%! Todos os dias me pergunto: “Como seria se eu fosse realmente eu? Seria mais feliz? Sentir-me-ia amada? Teria apoio e compreensão?” Tento compreender porque razão Deus me criou assim. Se de facto existe um Deus, porque razão me sujeita a uma vida de vergonha, proibida pela Sua lei? Imagino, vezes sem conta, como seria… Como reagiriam as pessoas que fazem parte da minha vida e que me amam? Continuariam a amar-me incondicionalmente? Apoiar-me-iam? Proteger-me-iam de todo o preconceito e maldade deste mundo? Cumpririam com o seu dever? Como posso eu sequer pensar em mudar a minha vida, sem ter as respostas a estas perguntas? Apercebo-me de que o preço da minha felicidade é demasiado alto, mas sendo esta a única vida que me foi dada, a única oportunidade de ser feliz, deverei vivê-la só por viver? Apetece-me ser feliz! Apetece-me sorrir! Apetece-me rir até que me doam as bochechas! Apetece-me apaixonar-me! Apetece-me amar e ser amada! Partilhar a minha vida, os meus sorrisos e o meu amor com alguém que faça o mesmo comigo! Apetece-me não estar só…
08-01-2009
Falei… Foi tão estranho… tão surreal… Bastou uma pergunta, uma suposição… Foi mais do género: “Mas quê? És lésbica?” Lésbica… Gay… Preto… Branco… Bastou um olhar… Um silêncio que pareceu durar uma eternidade e depois apercebi-me! Falei… Mostrei-me! Não sei bem o que senti. Foi uma salada de emoções. Vergonha, revolta, alívio… Pedi, implorei para que não contasse a ninguém o que me saiu do olhar sem que eu sequer tivesse tempo de pensar. Disse-me que se era essa a minha opção de vida que seguisse em frente. Gritei: “Não é opção! Sou eu!” Mostrei-lhe o meu primeiro “desabafo” por escrito. Ele leu… Calou-se… Eu disse: “Isto sou eu.” Ele percebeu. Queria ajudar, mas não sabia como. Talvez se não vivêssemos numa sociedade tão falsa, mesquinha e preconceituosa, ele soubesse exactamente o que me deveria dizer. E no entanto, se assim fosse, a pergunta, o olhar, a vergonha, a revolta, o alívio… nunca teriam de acontecer. Mas porquê que têm de acontecer? Até quando vão ter de acontecer? No dia seguinte li no jornal uma notícia que falava de um cardeal da Irlanda que pedia perdão às pessoas por não ter denunciado casos de pedofilia que entretanto foram denunciados. Revolta! Ódio! E contra esses? Ninguém se manifesta? Organizam grupos que ostracizam e diminuem pessoas que só querem amar, ser felizes e não se pronunciam quando algo de tão horrível acontece no “seu mundo” de perfeição e razão absoluta? Foda-se! Na minha cabeça lutam entre si ideias, planos, tentativas de felicidade… De um certo modo quero voltar a repetir aquele olhar, mas assusta-me tanto que não percebam… Que se afastem… Que deixem de me amar… Que pensem que sou uma anormalidade. Pior! Que pensem que é opção! Por enquanto vou escrevendo, com a secreta esperança que um dia alguém descubra isto e só seja preciso “o olhar” e que me apoiem, mesmo não sabendo bem como… Por agora sinto-me feliz só por poder dizer: “Obrigada tio!”
19-03-2010
P.S. “Vai em frente!!!” escreveu ele…
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