"Em Inglaterra há paradas 'gay' com polícias fardados"
Diário de Notícias (Portugal) - 03-07-2009
por Sónia Simões
URL: http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1252146
Entrevista com Belmiro Pimentel, agente do Comando da PSP do Porto.
Porque decidiu criar um grupo de trabalho de apoio aos polícias homossexuais?
Por incentivo de um colega da PSP, que está a tirar uma licenciatura em Sociologia e a trabalhar sobre o tema da orientação sexual. Comecei a perceber que muitos colegas meus eram discriminados por serem gays e decidimos criar este grupo à semelhança do já criado Eurogaypolice.
Mas já se sentiu discriminado?
Sinto-o desde o momento em que falam nas minhas costas. Mas os meus colegas que me olham pela pessoa que eu sou rebatiam os argumentos. Outras vezes, eu próprio o fiz. Mas sei do caso de um colega que foi afastado de um grupo de trabalho, com boas notas, e que não encontra explicação para isso.
E como é que este grupo pretende mudar isso?
Estamos ainda numa fase de estágio. Para já, o grupo de trabalho sou eu, o meu colega que está a estudar Sociologia e o João Paulo do Portugal Gay. Mais tarde pretendemos contar com juristas, psicólogos e outros profissionais que nos possam ajudar. As coisas estão a caminhar no bom sentido.
Desde que deu a cara por este movimento já sentiu alguma represália?
Até ao momento não, nem se espera que existam. Se houver algum comentário e eu sinta que a minha imagem e honra foram denegridas, usarei os meios legais. Mas há colegas meus que já me contactaram e que temem represálias, por isso não dão já a cara.
Já foi contactado por muitos colegas?
Alguns colegas contactaram-me, mas nem todos são homossexuais. Dizem que sou corajoso. Prefiro que isto seja encarado como altruísmo pelos outros que sentem o mesmo que eu. Alguns temem ser conotados com os homossexuais quando estão comigo. Para as mulheres é mais fácil. Também há muitas mulheres lésbicas na PSP.
Espera que este grupo de trabalho se desenvolva ao ponto de se tornar independente e, quem sabe, ser uma associação sindical?
Este grupo poderá caminhar para um outro que acolha homossexuais de outras instituições, como da GNR, da PJ ou até da segurança privada, à semelhança do que acontece em Espanha. Ponderamos isso, para já somos ainda um embrião a trabalhar no seio da PSP. Em Inglaterra até já há paradas gay com polícias fardados.