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Política & Direitos

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por António Serzedelo

Ao dirigir-vos a palavra nesta sessão do FSP sinto que o faço em nome dos meus companheiros GLBT, mas não como antes tem acontecido no espaço de algumas frentes de luta em que somos tidos como aliados excedentários , simpáticos companheiros a quem é preciso tolerantemente , dar a mão, mas agora, definitivamente, como imprescidiveis parceiros sociais, desta marcha que iniciamos em Coimbra.

Nós que somos os dissidentes da Globalização , á procura de uma nova Globalização, mais justa e mais humanista , achamos que é importante dizer-vos que não nos sentimos á esquerda da esquerda, nem sequer uma nova esquerda, como alguma imprensa de referência,nacional ou internacional , gosta de nomear este movimento para lhe diminuir o impacto.

Somos de facto muito mais modestos, ou ambiciosos ,depende do ponto de vista, e, limitamo-nos ,a apodarmo-nos de progressistas. Isto ,por antinomia, aqueles que na gestão da economia e dos fenómenos sociais, só exaltam o individualismo, e para quem as pessoas, Portugal, ou Europa não são mais do que um cliente , um pequeno mercado (Portugal), ou um grande mercado a conquistar (Europa).

Mas, quando refiro progressista no contexto do FSP, faço-o igualmente, porque este é um movimento de movimentos, que englobando partidos , sindicatos e organizações de esquerda, tambem engloba associações , grupos e movimentos que passam até pela Igreja e por ONG´s que não se identificam, necessáriamente, com os valores que certa esquerda defendeu ou defende , mas se identificam com novos modelos de cultura e de acção, não sistematizados ainda nos códigos classicos, onde se vão beber as doutrinas de igualitarização social. É que a chamada esquerda clássica tem estado paralizada ao pretender copiar, e re-assimilar os modelos da direita reaccionária, que por sua vez na sua versão populista ,tenta roubar alguns slogans caros á esquerda com vista ,á conquista do Poder . Mas neste, uma vez instalada , tais promessas são rapidamente esquecidas em função da força das suas referência tradicionais, que não lhes permitem quaisquer desvios .

Diria ainda ,que somos progressistas porque defendemos os valores possíveis , que é algo mais amplo do que a esquerda em geral defende .

Creio que o projecto que nos une não é pôr em abstracto uma globalização ideológica, que promove unicidade , desregulamento e exclusão ,contra outra globalização abstracta igualmente desregularizada.

Nós procuramos aqui, pela acção, e pela unidade na diversidade ,pôr de lado a ideologia e promover a criatividade . Procuramos uma globalização alternativa. Já não existem duvidas que a globalização neo-liberal que tem vindo a decorrer, começa numa primeira fase ,por eliminar os mais fracos: deficientes, seropositivos , mulheres , imigrantes , minorias religiosas ou étnicas , ambientalistas , familias não convencionais e GLBT´s.

Depois, passa à perseguição das formas de representação colectiva que significam um perigo para a imagem de unicidade que pretendem dar de si próprias tais forças reaccionárias .

Por isso ,me atrevo a dizer que o problema das minorias que antes era um problema excêntrico á Democracia , hoje ,é um problema central ,e dinâmico de todas as democracias que se pretendem construir nos países desenvolvidos ,dando voz á cidadania .

As minorias que integram os diferentes extractos dos diferentes Estados , dos diferentes países, pelo menos na Europa ,não podem continuar a ver sulapados os seus esforços para se integrarem socialmente, sob pena de se ter de dizer que a construção da Democracia está enquinada . E as minorias que habitavam as margens da política, hoje, estão colocadas no centro da agenda politíca, e não pode haver ideal progressista , humanista e democrático que não dê voz aos valores alternativos , diversificados e criativas que estas forçãs trazem em si .

Ilustrarei o que digo com dados recentes segundo o Instituto para o Desenvolvimento Social. O desemprego por exemplo, atinge mais as familias mono-parentais que já são cerca de 10% das tradicionais , quando a figura titular é a mulher, e por outro lado, assiste-se a uma crescente feminização da pobreza. Se sairmos daqui ,e desviarmos o olhar para os GLBT, vemos que os seus direitos laborais estão sempre ameaçados, quer por questões de orientação sexual, quer por questões de género,de que as mulheres são vitímas clássicas. E neste campo, apesar de algumas proclamações simpáticas a practica sindical clássica ,ainda não demonstrou ,até ao presente, no nosso país, particular interesse em discutir directivas comunitárias relativas á discriminação no local de trabalho que atingem tanto os GLBT, como as minorias étnicas .

Mas no FSP estamos todos mais fortes e mais visiveis, o que em si mesmo ,já é um acto politico.

Uns, as mulheres lutando contra o sexismo e a precariedade laborial , outros , os emigrantes,trabalhadores que nos constroem as pontes,auto estradas, casas e estádios, em luta contra o racismo e xenofobia , pelo multiculturalismo, os gays e lesbicas lutando contra a homofobia e o heterosexismo, que é a outra face da mesma moeda, os deficientes ,vitimas de acidentes de trabalho,ou outros acidentes,lutando contra a marginalizaçao social para que os querem arrastar, as novas familias alternativas lutando contra o modelo unico, da Opus Dei , ou do Bagao Felix, mas sempre patriarcal,dominador da mulher a reprodutora de ,filhos e filhas, todos à mercê de uma pai patriarcal.

Todos juntos formamos uma grande força alternativa ,maioritaria,indispensável para com a outra maioria reconstruir e propor um país mais democratico, com mais cidadania ,. mais rico, lutando pela paz, com maior justiça social, e com um crescimento e futuro ecologico, sustentados.

Todos juntos a seguir no Porto, e depois em Junho no culminar deste percurso vamos demonstrar isto à Sociedade Portuguesa.

Obrigado!

Lisboa 16 de Nov. 2002

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