CARTA ABERTA DOS JOVENS PORTUGUESES
Nós, jovens mulheres e homens, queremos fazer parte da discussão em
curso sobre Educação Sexual, despertada por pais, mães, comunicação
social e ainda com a participação de políticos.
Defendemos a Educação Sexual que aborda a sexualidade, no contexto
social e das relações e afectos. É urgente responder às perguntas dos
jovens sobre os aspectos biológicos e fisiológicos, de saúde sexual e
reprodutiva, mas também acerca do desenvolvimento humano, das relações
interpessoais e afectivas, competências pessoais e sociais, da sociedade
e da cultura. Entendemos que a Educação Sexual deve combater os
preconceitos e a ignorância que afectam a sexualidade individual das
pessoas e trazem tantas dificuldades a crianças e jovens, como o
sexismo, a homofobia, o racismo e a discriminação económica.
Defendemos igualmente o acesso fácil e gratuito a serviços e recursos,
no âmbito da saúde sexual e reprodutiva, amigáveis e adequados aos
jovens e que permitam a vivência da sexualidade de uma forma saudável,
satisfatória e protegida, livre dos riscos que todos conhecemos.
Desenvolver a nossa autonomia, responsabilizando-nos por nós mesmos,
significa também dar-nos a conhecer as opções existentes, ter serviços
que nos respeitem e confiar nas nossas escolhas. Nunca serão alheias à
educação familiar, a primeira forma de amor com que muitos/as de nós
temos contacto. Mas não a única.
Temos de relembrar a situação actual em Portugal?
• As grávidas adolescentes, mães forçadas no tempo; no segundo país
Europeu com maior incidência de gravidez indesejada adolescente?
• As novas infecções de VIH anuais dos cerca de 12.000 casos
diagnosticados até 2004, quase 30% estão entre os vinte e os vinte e
nove anos, o que mostra bem a necessidade de prevenção de Infecções
Sexualmente Transmissíveis nas idades mais precoces.
• A xenofobia e homofobia : a manifestação de extrema direita realizada
dia 18 de junho no Martim Moniz em Lisboa e o exemplo de Viseu não nos
envergonha a todos? Como vamos respeitar a Constituição Portuguesa, se a
polícia não nos ajuda na defesa da violência baseada na discriminação da
orientação sexual ou a respeitar as diferentes culturas e sub-culturas
existentes no nosso país?
• E a discriminação de género que vulnerabiliza muitas raparigas quer
pelas diferentes oportunidades sociais, quer pela violência, ou pelas
fracas competências de negociação e assertividade nas relações...
Estamos seguramente de acordo que queremos prevenir tudo isto.
Acreditamos que a solução passa pela educação sexual sem restrições, sem
censuras, que aborde as reais questões colocadas por crianças e jovens.
Tem de provocar respostas baseadas em factos para as perguntas, sobre
sexualidade, independentemente da natureza das questões ou da idade da
pessoa que as coloca.
O acesso a serviços e cuidados de saúde sexual e reprodutiva para jovens
não pode estar sujeito ou dependente da autorização das mães e pais,
pois o tabu da sexualidade começa muitas vezes em casa, com a diferença
de gerações a tornar o diálogo difícil; e é necessário não esquecer que
a maioria das situações de violência, abusos e maus tratos a nível
sexual se passam no interior da família e devem, como tal, ser
prevenidas também dentro e fora dela.
Sabemos que Portugal já se comprometeu a resolver estas questões de
Saúde Sexual e Reprodutiva, em diversas conferências internacionais: no
Cairo, em 1994: 180 países assinaram o Programa de Acção, reconhecendo o
direito dos adolescentes ao acesso a cuidados e serviços de saúde sexual
e reprodutiva e à Educação, Informação e Aconselhamento.
Não podemos isolar-nos do mundo em que vivemos, ignorar que é
efectivamente entre pares que nós passamos o nosso tempo, na escola, ou
a receber informação da comunicação social (haverá mundo mais
sexualizado?), pela televisão, jornais, rádios, e em muitos outros
espaços que não em família.
Os peritos moralizadores da educação sexual e protectores de crianças e
jovens têm de assumir connosco que nós, jovens, temos relações sexuais,
ou escolhemos não as ter. E por isso exigimos uma educação sexual
escolar e serviços de saúde sexual e reprodutiva, eficazes e disponíveis
para todos.
Queremos a aplicação das leis existentes…Até quando vamos continuar a
mudar e remendar leis sem permitir o desenvolvimento do bom trabalho
realizado?
Queremos sentar-nos à mesa e falar de nós, do presente e do futuro, sem
fantasmas ou morais impostas. Queremos fazer parte da democracia
Portuguesa - uma democracia que nos respeite a todas e todos.
Youact – Rede Europeia de Jovens pela Defesa dos Direitos Sexuais e
Reprodutivos
Não Te Prives – Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais
Rede Ex Aequo – Associação de Jovens Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Transgéneros e Simpatizantes
Para assinar este documento:
http://www.petitiononline.com/cartassr/petition.html
rede ex aequo
associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e
simpatizantes
Website: http://ex-aequo.web.pt
Email: rede@ex-aequo.web.pt
Fórum: http://ex-aequo.web.pt/forum
IRC (PTNet): #ex-aequo
Rua S. Lázaro 88,
1150-333 Lisboa
Portugal
Telefone: (+351) 96 878 18 41
Fax: (+351) 21 887 39 22
Não Te Prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais
Apartado 3113
3001-401 Coimbra
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