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Comunicado de Imprensa, ILGA Portugal 22 Fevereiro 2004


"Infelicidade" é ser educado por Luís Villas-Boas

Luís Villas-Boas (LV), presidente da comissão de acompanhamento da lei de adopção portuguesa, ao reagir à decisão espanhola de permitir a adopção de duas crianças por um casal de lésbicas produziu uma sucessão de declarações homófobas e profundamente ofensivas, publicadas no artigo intitulado "Villas-Boas diz que ser educado por homossexuais é uma ‘Infelicidade’ - in Público de 18 de Fevereiro de 2004. A Associação ILGA Portugal não duvida, por um segundo sequer, que os interesses e direitos das crianças são soberanos e prioritários em relação a quaisquer outros. Por isso mesmo, tem o dever de chamar a atenção para o facto de que, em Portugal, enquanto muitos milhares de crianças estão em orfanatos e instituições onde não têm o carinho e a atenção de que necessitam, há muitos casais homossexuais excluídos da possibilidade de as adoptar, independentemente das suas condições afectivas, culturais e financeiras. É convicção da Associação que esta exclusão a priori é baseada apenas no preconceito - e uma prova irrefutavel deste facto são as declarações de LV.

Estas declarações são em primeiro lugar uma manifestação de puro preconceito homófobo. Enquanto psicologo, LV ignora activamente estudos científicos que demonstram a semelhança entre homo- e heterossexuais no exercício dos papéis parentais (incluindo atitudes parentais, comportamento, personalidade e ajustamento dos pais), sendo também semelhante o desenvolvimento emocional e social da criança, assim como a identidade de género e orientação sexual da mesma. Sugerimos, pois, a LV a leitura do relatório publicado em Fevereiro de 2002 pela American Academy of Pediatrics (Academia Americana de Pediatria), assim como a leitura de documentação relevante da American Psychological Association (Associação Americana de Psicologia).

As declarações de LV são em segundo lugar uma manifestação de pura arrogância. A possibilidade de adopção por casais homossexuais existe em vários países europeus, incluindo o Reino Unido, a Holanda, a Suécia e a Dinamarca, "pontos da Europa" classificados por LV como "perversos", mas que são curiosamente dos mais desenvolvidos do mundo. Para além disso, LV "esquece" que as lésbicas e os gays são mulheres e homens, na sua "plenitude natural" - frequentemente mães e pais, cujo carinho pelos filhos é incontestavelmente genuíno. Os comentários de LV são muito mais que uma "infelicidade". São um insulto grave a muitos milhares de portuguesas e portugueses.

Este insulto não pode ficar impune. Considera a Associação ILGA Portugal ser de extrema gravidade que uma pessoa que se baseia no preconceito para defender a limitação de Direitos de Crianças e de Direitos Humanos ocupe o cargo de presidente da Comissão de Acompanhamento da Lei de Adopção Portuguesa. A Associação está convicta que LV não teria sido nomeado para semelhante cargo em qualquer dos "pontos da Europa" que considera "perversos". Caso o fosse, declarações como estas significariam obviamente a sua demissão imediata.

Associação ILGA Portugal
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1150-333 Lisboa Portugal
Tel. 21 887 39 18 / Fax. 21 887 39 22
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