Deitada no sofá,
recuperando de uma azáfama enloquecedora,
não deixo de sentir a sua essência
na minha pele,
mesmo agora, deixada sozinha.
Inspiro aquele odor... Qual oxigénio!...
inspiro novamente...
... e mais uma vez inspiro...
Nos meus lábios detecto um conhecido sabor,
o já percurrido relevo dos seus lábios,
forma-se novamente nos meus.
Fecho os olhos.
Relembro os momentos a seu lado.
E com tanta marca no meu corpo deixada,
é como se tivesse a beijá-la,
como se tivesse a abraçá-la...
sinto a forma do seu corpo sobre o meu.
Com, ainda, os olhos cerrados,
vejo o seu sorriso... o seu terno olhar...
Ela está tão dentro de mim!
tão fora... tão em cima, tão em baixo...
a meu lado...
Amaldiço tamanha ausência!
Tamanha perseguição... tenho-a aqui...
mas não a tenho...
A mente está cansada...
revivo e revivo novamente
os nossos momentos de entrega...
a impulsividade, a instictividade...
Todos os meus sentidos são saciados
por ela, com ela, através dela!...
o seu sabor... ainda o saboreio...
o seu cheiro... ainda o inalo...
a sua voz... ainda se declara...
a sua pele... toco-a em mim...
a sua face... ainda a vejo...
Conto no calendário o espaço temporal
que me dela separa...
os dias, as horas, os minutos...
E as palavras que me dirige
acalmam-me, emocionam-me,
asseguram-me...
Enterro-me nela,
vivo com ela, vivo porque ela assim me mantém
... sentidos aguçados, saciados ora agora...
insaciados agora depois...
com as emoções transbordando
nos poros da minha pele,
como um ser humano é legitimo e digno de se manter vivo
...
amando.
Guida
guida.sm@netcabo.pt
9 Agosto 2001