Natural do Uruguai onde sempre tinha vivido, já tentava realizar o seu sonho, mas a falta de apoio dos pais e sem ajuda no seu país impediam essa concretização. Alguém recomendou a Clínica Santa Marianita de Jesús, no Equador; e depois de se tentar informar na net pareceu-lhe ser confiável. Romina organizou a viagem e como não conhecia ninguém em Quito foi directa do aeroporto para a clínica.
Submeteu-se a cirurgias faciais e à cirurgia de correcção de sexo, e permaneceu internada 18 dias. No fim apareceu um médico da clínica, que nunca tinha visto, para lhe dar alta e dizer que podia embarcar no avião de regresso ao Uruguai.
Romina tinha dúvidas do resultado e lembra que pediu ao médico que lhe desse mais pontos na sua neovagina, pois sentia que se desprendia.
O seu sonho transformou-se em pesadelo quando se encontrava em trânsito em Santiago do Chile. Foi ao WC e ao retirar o dilatador vaginal a sua genitália desmoronou.
Pediu uma cadeira de rodas para embarcar no avião que a levaria a Montevideo e ao chegar dirigiu-se a um hospital para ser ajudada.
Fizeram-me sete limpezas cirúrgicas, fiquei em carne viva, tinha a pele queimada. Saí do hospital com uma argália ligada à uretra para poder urinar e estive um ano inteiro a curar-me, recorda. Quando recobrou a saúde viajou para o Chile para reconstruir a sua genitália feminina e assim que se recuperou começou a pensar em processar a clínica de Quito.
Quando estava mal contactei-os e disseram-me que lhes podia enviar todos os advogados que desejasse.
Romina tem agora 27 anos e encontra-se em Quito. Pôs uma acção formal contra a clínica e os seus novos responsáveis, já que o cirurgião que a operou faleceu. O seu advogado, Jaime Tamayo, perito em direito de saúde, afirmou que se trata de um caso de má prática médica. O processo por danos e prejuízos encontra-se em trânsito.
Romina deseja levar o processo até ao fim.
A actual administradora da Clínica Santa Marianita, Carmen Marín Zúñiga, recusou prestar qualquer declaração sobre este caso.
Em Portugal, os médicos do Hospitais da Universidade de Coimbra, onde agora supostamente se fazem este tipo de intervenções médicas, recusam-se a informar as pessoas transexuais sobre as técnicas usadas para estas intervenções e sobre a prática que tem quem as vai realizar.
Casos similares a este, como o de Filipa Gonçalves, não são alvo de processos judiciais. Muitos não são divulgados por medo, visto que são poucos os médicos que se prestam a estes serviços, e a possibilidade de represálias é real, pois por serem poucos a possibilidade de se apanhar o mesmo médico é quase certa, ou outro da mesma equipa.
Curiosa é também a situação no Hospital de Santa Maria, onde uma pessoa que tenha feito a(s) sua(s) cirurgia(s) lá, com o Dr. João Décio Ferreira, médico cirurgião que tratava destes casos e que se reformou e agora só atende no privado, no Hospital de Jesus, só atendendo quem tenha ADSE.
Os pacientes do SNS (sem ADSE) ficam numa espécie de limbo caso tenham algum problema, pois para serem atendidos por ele têm que pagar a totalidade, e nem são encaminhados para um outro médico nem para os Hospitais da Universidade de Coimbra.