Campinas é a primeira cidade do país a ter atendimento especializado para travestis, devido a problemas de saúde em consequência do uso de silicone líquido. A criação e implantação de um programa que tenha como objectivo diminuir os danos causados pelo uso do silicone industrial, nesta população, é uma antiga reivindicação do movimento LGBT da cidade. Durante as assembléias do Orçamento participativo em 2002, gays, lésbicas, travestis e transexuais redigiram e apresentaram um projecto específico, que foi aprovado naquele ano. Durante a execução deste projecto, foram realizadas três oficinas com um grupo de travestis no Centro de Referência GLTTB, com o intuito de sistematizar o conhecimento "popular" sobre as técnicas de feminização do corpo masculino. Paralelamente, a Secretaria Municipal de Saúde reuniu um grupo multidisciplinar de profissionais para pesquisar, cada um em sua área de especialização, os efeitos do silicone líquido no corpo humano. Foram mais de 70 horas de reuniões, pesquisas nos mais diferentes meios, exames clínicos em travestis siliconadas e hormonizadas, para que depois disso tudo pudesse ser feito o protocolo oficial, como uma possibilidade de usar medidas preventivas de protecção à saúde e à vida. O protocolo é uma compilação de textos com indicações de acolhimento humanizado, procedimentos clínicos para com os indivíduos que apresentem problemas de saúde em consequência do uso do silicone industrial. Além desses textos técnicos há também textos com informações psicosociais sobre esta população, para preparar o trabalho dos profissionais que trabalham nos Centro de Saúde e das equipas de saúde da família. A implantação deste protocolo de atendimento, fruto de um trabalho exaustivo, traz a marca de inovação e de mudanças paradigmáticas para o serviço público de saúde: torna as travestis e transexuais cidadãs com problemas de saúde e estes cidadãos agora possuem um meio médico/legal à sua disposição para amenizar o seu sofrimento físico.