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Segunda-feira, 26 Novembro 2007 09:42

PORTUGAL
Na Ordem do Médicos só o conselho de ética levanta dúvidas a operações feitas por cirurgiões seropositivos



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Bastonário defende que não há razões para impedir um médico infectado de operar e fala de "consenso alargado" sobre a dimensão reduzida dos riscos para os doentes.


Há um "consenso alargado" de que o risco de um cirurgião infectar um doente durante uma operação é muito baixo - "é semelhante ao de um satélite de telecomunicações cair no meio da rua ou de haver um tremor de terra em Lisboa", diz Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, que defende que um clínico deve poder operar, mesmo se for seropositivo. Mas há, no seio da Ordem, um "parecer dissonante", admite: o conselho nacional de ética e deontologia médicas defende que, "havendo risco para o doente, mesmo que seja próximo do zero", um cirurgião seropositivo não deve fazer cirurgias. Pedro Nunes resumiu assim o resultado da reunião aberta de sábado, que juntou técnicos de vários colégios da Ordem. Depois do encontro, o bastonário consolidou a opinião que já tinha: "Não há razões para se impedir um cirurgião seropositivo de operar." Por isso, depois das eleições para o conselho nacional da Ordem, marcadas para Dezembro, se voltar a ser eleito como bastonário, será isso que defenderá, mesmo tendo em conta a opinião sustentada pelo conselho de ética. O debate sobre Risco e ética em cirurgia foi suscitado por um caso divulgado pelo PÚBLICO de um cirurgião que trabalha num hospital público e a quem foi detectada a seropositividade pelo médico do trabalho. A Ordem terá que se pronunciar sobre o assunto. Antes quis, no entanto, sentar à mesma mesa responsáveis da Sociedade Portuguesa de Cirurgia e de colégios de várias especialidades, como os colégios de doenças infecciosas, cirurgia geral e medicina geral, e os conselhos nacionais do exercício técnico da medicina e de ética. Para recolher opiniões. Entre a generalidade dos participantes ouvidos "há um consenso bastante alargado" sobre o facto de a possibilidade de contágio ser desprezível, diz Pedro Nunes. Em todo o mundo "só há um ou dois casos documentados de cirurgiões que podem eventualmente ter infectado doentes", explica. E continua: "Se disséssemos que um cirurgião seropositivo devia deixar de operar, tínhamos que passar a rastrear os cirurgiões com muita frequência, porque eu posso não estar infectado hoje, mas amanhã já posso estar... Mas há outra questão: será que por ser cirurgião uma pessoa perde os seus direitos de cidadania? Porque ninguém pode obrigar a fazer rastreios." Pedro Nunes entende que "há um risco genérico inerente a todos os actos da vida em sociedade". Não há nunca um risco zero. Por isso, defende que a Ordem deve emitir um parecer que dê luz verde a cirurgiões seropositivos, explicando que, em qualquer caso, devem ser seguidos procedimentos para reduzir ainda mais o risco. Por exemplo, a substituição imediata de um médico que se corte durante uma operação por outro. De resto, "já há uma recomendação da Ordem para que um cirurgião nunca opere sozinho".

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