Ersoy, de 53 anos, afirmou numa cadeia de televisão que há cerca de 20 anos tinha sido contactada por Deniz Baykal, hoje líder do Partido Republicano do Povo (CHP), social-democrata, várias vezes ministro e figura respeitada da classe política.

Depois do golpe militar na Turquia de 1980, Ersoy, que era então um homem, viu os generais no poder proibirem que se apresentasse em palco, depois de ter sido operado em Londres para efectuar uma mudança de sexo. Nessa altura Baykal estava também proibido de ter actividade política. Mas trabalhava como advogado e foi nessa qualidade, acusa Ersoy, que lhe pediu 100 milhões de libras turcas para iniciar o processo que a levaria de novo aos palcos. Cem milhões de libras turcas são hoje uma ninharia (cerca de 60 euros), mas na época eram uma verdadeira fortuna.

Depois das declarações polémicas na televisão, a cantora repetiu todas as acusações numa mais do que concorrida conferência de imprensa, voltando a sublinhar que quem lhe pedira a soma astronómica fora "Deniz Baykal, presidente do muito respeitável CHP". "Encontrámo-nos em Ancara."

A cantora esclareceu que nunca chegou a fazer o negócio com o advogado nesse encontro arranjado por um muito conhecido chefe mafioso, que entretanto morreu, porque Baykal não lhe deu garantias absolutas de que as suas démarches junto dos militares acabassem por ser bem sucedidas.

Baykal desmentiu as acusações, afirmando nunca ter pedido qualquer soma de dinheiro à cantora e dizendo que só conversara com ela pelo telefone. Os seus assessores admitiram que o líder social-democrata processe judicialmente Bülent Ersoy por difamação.

Mas a capa dos principais jornais turcos era ontem largamente dedicada ao escândalo, com comentadores políticos a sugerirem que a imagem de Baykal pode sofrer danos consideráveis. E, se se juntar a isto o facto de o partido continuar, nas sondagens, numa queda aparentemente imparável, o cenário em que Deniz Baykal se demite da liderança do CHP ganha uma probabilidade crescente.