As mulheres transexuais de cor estão vivendo uma crise, especialmente as mulheres negras transgéneras.
Embora os detalhes dos casos documentados neste relatório sejam variados, é clara a interseção tóxica entre racismo, sexismo, transfobia e a facilidade como se pode negar a muitos membros da comunidade transgénera acesso à habitação, emprego e outros elementos básicos do dia-a-dia.
Cada uma dessas vidas que são tragicamente terminadas, reforça a necessidade urgente de ação em todas as frentes para acabar com essa epidemia - desde legisladores e polícias, até aos média e às nossas comunidades. Alphonso David, HRC
O relatório "Uma epidemia nacional: violência fatal contra transgéneros nos Estados Unidos em 2019" (A National Epidemic: Fatal Anti-Transgender Violence in the United States in 2019) explora muitos dos fatores que podem contribuir ou levar a violência mortal. Em muitos casos, a discriminação sistémica na interseção entre identidade de género e raça leva a barreiras significativas ao emprego e à habitação. Isso empurra muitas pessoas trans para economias subterrâneas, incluindo o trabalho sexual, para sobreviver e para situações em que é mais provável que se cruzem com violência.
O relatório também pede a expansão de recursos e programas baseados na comunidade para lidar com a epidemia. No início deste ano, a HRC anunciou que está expandindo significativamente o seu trabalho dedicado à justiça para a comunidade trans. A organização avançará novas iniciativas, trabalhando ao lado dos advogados da comunidade, para se concentrar no empoderamento econômico; programas de capacitação; forças-tarefa direcionadas nas comunidades mais atingidas pela epidemia de violência anti-trans; e ampliadas campanhas de educação pública.
E são várias as medidas que podem ser implementadas para melhorar esta situação, incluindo a aprovação de proteções contra a discriminação; melhorar a resposta e a formação para aplicação da lei; melhorar a recolha de dados e relatórios; reformar leis que têm como resultado criminalizar comunidades marginalizadas e prejudicar a saúde pública; e adotar proteções de senso-comum contra a violência armada.
O relatório regista para o ano de 2019 pelo menos 22 assassinatos de pessoas trans nos EUA, sendo todas de cor todas excepto uma. Desde janeiro de 2013, a HRC documentou mais de 150 casos de violência mortal sobre pessoas trans; pelo menos 127 eram pessoas de cor. Quase nove em cada dez vítimas eram mulheres trans. E a realidade será provavelmente mais grave do que estes números pois muitos dos casos de violência contra pessoas trans não são registados.
Além dos 22 casos confirmados há dois outros casos de mulheres trans, Johana Joa Medina e Layleen Polanco, cujas mortes ainda estão sob investigação. Medina, de 25 anos, morreu num hospital em El Paso, Texas, poucas horas depois de ser libertada da custódia das autoridades de fronteira. Ela sofreu graves complicações de saúde que não foram tratadas enquanto estava detida, segundo a Diversidad Sin Fronteras. A sua família apresentou uma queixa por morte e danos pessoais contra o Departamento de Imigração e o Departamento de Segurança Interna. Polanco, 27 anos, foi encontrada morta em confinamento solitário em Rikers Island, em 7 de junho. A sua família diz que as autoridades sabiam que ela tinha epilepsia e falharam em fornecer o tratamento adequado, apesar da sua condição médica.
Este relatório surge poucos dias após o Federal Bureau of Investigation divulgar os dados relativamente a crimes de ódio de 2018, que constatou um aumento alarmante de 34% nos ataques violentos baseados em ódio contra pessoas trans entre 2017 e 2018.