Didi, nome artístico de Eduardo Henrique, é o pintor de serviço e as pinceladas fazem-se ao vivo. Nunca mostrei os meus quadros, agora faço-o enquanto recebo as pessoas, conta o proprietário de 39 anos. O sócio é heterossexual. Como grande parte da frequência do bar galeria, aberto há duas semanas. O público é gay, hetero e até vêm aqui mais mulheres e nem todas são lésbicas.
Para se dedicar ao espaço, Eduardo deixou temporariamente a carreira de produtor de espectáculos. Queria um local que tivesse a ver comigo e O Bico tem, explica este homossexual assumido desde os 14 anos, sempre com o apoio da família, ele que é neto de um actor (Henrique Santos) e que desde cedo convive no meio artístico.
Já fez figurinos para a discoteca Swing (Porto), para o teatro O Bando, Teresa Salgueiro e Filipa Pais, entre outros produção de espectáculos e, em Setembro, volta a dar aulas (na ETIC). Mas este era um sonho antigo para os meus últimos anos: um bar galeria, à beira da praia, conta Eduardo. Por que não agora?.
Com um investimento de 50 mil euros, O Bico (que funciona das 17h00 às 02h00) transformou-se na sala de estar de Didi, bem no meio de um bairro lisboeta, o Alto de Santa Catarina. Serve bebidas exóticas sangria de champanhe com morangos (Bico da Casa) e mostra arte gay (ver caixa) ao estilo work in progress.
Além, de quadros os de Didi, da exposição Ho(t)mens, custam entre 1500 e 2500 euros , a programação de fim de tarde incluirá, futuramente, projecções, fotografia, poesia e música. A temática, claro, tem cariz (homos)sexual: Entre homens, porque a arte lésbica também se mostra em galerias normais, sublinha o mentor da galeria.
Jorge Palma, na noite de inauguração, passou por lá e agarrou-se ao piano. Foi uma participação espontânea, lembra Eduardo Henrique.
Em breve, além de mostras em intercâmbio com duas congéneres europeias (Colónia e Londres) e da participação no Arraial Pride da Praça do Comércio (dia 23, o da Marcha do Orgulho LGBT), haverá sessões de bodypainting em nus, em homens, claro, talvez já no dia 29, na primeira grande festa.
ARTE COM CARIZ HOMOSSEXUAL
Arte gay? A arte tem sexo? Não, a arte não tem sexo, mas a arte figurativa tem. Pode ser interpretada de forma heterossexual, mas a conotação é sempre sexual e mostra a relação entre dois homens, explica Eduardo Henrique, sublinhando o conceito nascido nos anos 80. Para mais, os gays têm mais dinheiro porque não gastam com a família e querem arte diferente. NO Bico têm.
(por Sofia Canelas de Castro)