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Sexta-feira, 19 Setembro 2014 17:45

PORTUGAL
Queer Africa



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O Queel Lisboa 2014 tem um programa específico sobre o continente africano

PORTUGAL: Queer Africa

Apresentado na Cinemateca Portuguesa, o programa Queer Focus on Africa, uma colaboração com o Africa.Cont, é um programa ambicioso e inédito que explora as diversidades políticas e culturais do continente africano, bem como o modo como o seu cinema tem explorado as questões ligadas à sexualidade e ao género. De 20 a 27 de Setembro a Cinemateca exibirá não apenas clássicos como Touki Bouki de Djibril Diop Mambéty, ou Mercedes, de Yousry Nasrallah, mas igualmente alguns títulos que têm problematizado a própria noção de identidade africana ou de “África” como um conceito, como se vê no documentário (que passa também em competição) Profezia, L’Africa di Pasolini. O Queer Focus on Africa, que conta com 22 filmes, alarga a o seu programa a instalações, debates e performances por artistas africanos.

O programa pretende seleccionar obras que em conjunto proporcionem um olhar de várias experiências Queer em África. Como referem Pedro Marum e Ricke Merighi, programadores da secção Queer Focus, ”na impossibilidade de responder ao ónus da representatividade de um continente inteiro, seleccionou-se um sólido conjunto de histórias que podem abrir caminhos para findar com uma ideia hegemónica de África”.

Touki Bouki não é, ao acaso, o filme escolhido para abrir este programa, na Cinemateca, no dia 20. Considerado um filme seminal dos anos 70, e exibido numa cópia em 35mm recentemente recuperada pela Cinemateca de Bolonha, conta a história de dois amantes que pretendem trocar Dakar pelos prazeres e glamour de Paris, o seu El Dorado.

Woubi Chéri, (Laurent Bocahut) o primeiro filme a dar a oportunidade a homossexuais e transsexuais de África de descreverem o seu mundo nas suas próprias palavras, e Dakan (Mohammed Camara), considerado o primeiro filme da África ocidental a representar abertamente uma relação gay, são dois dos títulos que não poderiam deixar de integrar o programa, bem como Aya de Youpogon, baseado na banda desenhada dos anos 70 que desconstrói qualquer ideia pré-concebida de África. Já Call me Kuchu constitui-se como um testemunho mais recente de identidades homossexuais no Uganda, onde a homofobia de estado tem sido implacável. Simon & I, um documentário autobiográfico da luta activista de Simon Nkoli e da própria realizadora, Beverley Ditsie na África do Sul, Tall as the Baobab Tree, que nos mostra a luta de uma rapariga e da sua irmã contra o casamento forçado desta e Difficult Love, pela reconhecida fotógrafa Zanele Muholi, apresenta um relato intimista acerca dos desafios que lésbicas negras enfrentam na África do Sul nos dias de hoje, são outros dos títulos presentes neste programa.

Appunti per un’Orestiade Africana, de Pier Paolo Pasolini, será também exibido, no que se apresenta como um testemunho incómodo de uma visão colonialista tão recente. Neste clássico do mestre italiano, África é um ecrã onde ele projecta as suas esperanças de um insurgente mundo pré-capitalista, visão que se quebra ao primeiro choque com a realidade. Em complemento a esta obra de Pasolini, o documentário Profezia, L’Africa de Pasolini, de Gianni Borgna e Enrico Meduni, documenta o percurso de Pasolini e da sua obra que nunca chegou a ser. Este último filme, que se encontra na Competição de Documentários, reacende a discussão iniciada por Appunti per un’Orestiade Africana, realçando a impossibilidade de compreender África como um conceito singular e estanque.

Entre os convidados do programa, contam-se Martin Botha, Professor na Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, que integra o júri da Competição de Documentários; Lia Viola, investigadora sobre questões ligadas à homofobia de estado em alguns países africanos; Beverley Ditsie, activista e realizadora do filme Simon & I; Laurent Bocahut, realizador de Woubi Chéri e Barbara, a protagonista do filme; Ato Malinda, performer e curadora do Quénia, e Amanda Kerdahi, artista egípcia. Estes convidados tornam possível um programa de actividades paralelas, que conta com os debates “África Para Lá da Heteronormatividade” e “Queerização do Cinema Africano” a acontecerem na Cinemateca Portuguesa e no Cinema São Jorge.

A completar esta programação paralela, Amanda Kerdahi apresenta a instalação 100 Conversations que, partindo de conversas informais com mulheres egípcias sobre a sua sexualidade enquanto estas fumam, exibe o filtro dos seus cigarros, numa transcrição visual dos seus pensamentos-tabu. A instalação Collage, de Kadder Attia, foca-se nas vidas de transsexuais em Argel e Bombaim, enquanto que a performance de Ato Malinda, Untitled derivative from Mshoga Mpya, or the New Homosexual, reflecte sobre as identidades lésbicas no Quénia.

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