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Segunda-feira, 18 Setembro 2006 20:15

PORTUGAL
Não julgues e não serás julgado



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O Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa não só promove a exibição de cinematografias que certamente escapariam aos circuitos de distribuição comercial, como em si transporta uma série de objectivos sociais, entre os mais veementes a luta contra a homofobia. É precisamente neste quadro que se justifica a passagem, fora de competição, de Hate Crime, filme de 2004 do norte-americano Tommy Stovall, ensopado em vícios visuais e narrativos de televisão, mas todavia um incisivo olhar crítico sobre manifestações de homofobia levantadas por extremismos religiosos.


O realizador tem o cuidado de não confundir extremismo religioso com fé, duelo que estabelece entre o confronto de duas igrejas cristãs, uma que prega o amor ao próximo, a tolerância, a paz (sem conotações de sexualidade alguma vez levantadas pelo discurso do pastor ou pela assembleia que o escuta) e uma outra, para a qual Deus é castigador, onde o pecado é evitado pelo medo, onde a diferença ganha estatuto de abominação. É filho do pastor desta última igreja o novo vizinho de um jovem casal gay, Trey e Robbie, que, ao fim de seis anos de vida comum, decide enfrentar uma cerimónia (não oficial) que celebre a sua união perante familiares e amigos.

O assassínio de Trey levanta suspeitas de Robbie contra o vizinho, com cadastro por agressão a homossexuais, e cuja igreja mostra, no seu site oficial, um rol de razões pelas quais a homossexualidade deve ser condenada e castigada... A história agrava-se quando o próprio inspector da polícia vira a investigação contra o enlutado Robbie, manifestando uma outra forma de homofobia ao considerar que a razão está mais do lado de um homem de fé (o pai do vizinho e pastor da igreja) que de um anónimo que pode ganhar 500 mil dólares de seguro de vida. Resta a Robbie tomar a investigação (e justiça) nas suas mãos, engendrando uma viragem do feitiço contra o feiticeiro. De ética duvidosa, é certo. Mas "justa" no fim de contas.

Do segundo dia de exibição assinale-se ainda, na competição, o espantoso documentário Eye On The Guy, de Philip Lewis e Jean-François Monette (Canadá, 2006), que evoca Alan B. Stone, fotógrafo pioneiro de um registo de erotismo no masculino com expressão nas revistas de culturismo dos anos 50, revelando como, depois de um raide policial que tomou (abusiva e incoerentemente) a sua arte por pornografia, se revelou igualmente um magnífico retratista de cidadãos comuns, familiaridade evidente com o registo de um Cartier Bresson.

Também em competição viu-se a curta Group Of Seven Inches, de Kent Monkman e Gisèle Gordon (Canadá, 2005), que cruza memórias de pintores de índios do século XIX com uma suposta crítica a um museu/reserva no Ontário. Nem uma coisa nem outra passaram todavia para um filme inócuo, de humor frustrado e de desnorte.

[veja toda a programação em www.portugalgay.pt/lxfilmfest/ ]

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