Estes números são tanto mais significativos quanto o grupo dos homens que têm sexo com homens foi uns do que, nos países ocidentais, demonstrou desde o início da epidemia uma maior consciência dos riscos da infecção. Em Portugal, de acordo com a epidemiologista Teresa Paixão, que colige os dados portugueses relativos a HIV, nota-se um aumento da notificação de HIV em "jovens homossexuais com menos de 23 anos". Também há um aumento nas raparigas muito jovens, entre os 16 e os 18 anos. Mas a especialista frisa que o crescimento mais significativo nas notificações se refere às mulheres, sobretudo a partir dos 50 anos: "São portadoras assintomáticas cuja infecção se descobre agora, muitas vezes em exames de rotina."
"Parece haver uma indiferença em relação a comportamentos seguros", opina a epidemiologista, que considera que a evolução em Portugal continua a ser "negativa". O único sinal positivo diz respeito à transmissão entre dependentes de drogas injectáveis: os diagnósticos diminuiram 31% entre 2001 e 2006.
Os comportamentos sexuais de riscos são pois, na Europa Ocidental, os principais responsáveis pela "viragem" a que se assiste. Inquéritos recentes levados a cabo em Londres, a cidade com a mais alta prevalência de HIV no Reino Unido, permitiram concluir que a percentagem de pessoas que sabia que o HIV pode ser transmitido quando se tem sexo sem protecção baixou 21% entre 2000 e 2006. Associado a esta falta de informação ou ao "relaxe" na prevenção, um outro factor surgiu nos últimos anos: o "barebacking". Trata-se de uma espécie de roleta russa do sexo em que se busca precisamente a sensação de risco associada às relações sexuais não protegidas e que surgiu no meio homossexual.
Peter Piot, o director executivo da Onusida, já chama há algum tempo a atenção para este paradoxo: enquanto alguns países africanos e da América do Sul e da Ásia, onde a epidemia parecia imparável, se assistiu a uma estabilização graças à consciencialização da população, na parte do mundo mais rica, com mais acesso ao tratamento, assiste-se a um retrocesso.