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Terça-feira, 15 Abril 2008 09:33

PORTUGAL
Oito meses de prisão por não ter ajudado Gisberta



PortugalGay.pt

"É uma advertência deste tribunal, porque a bondade não se ensina." O juiz-presidente João Grilo explicou assim a pena de oito meses de prisão efectiva a que condenou ontem Vítor Santos, julgado no Tribunal de S. João Novo pela morte de Gisberta, que em 2006 sucumbiu no Porto, afogada num poço após vários dias de agressões perpetradas por 13 jovens.


À pena de prisão por omissão de auxílio, que poderá ser cumprida em regime domiciliário, serão descontados os dois meses e cinco dias de cadeia que o jovem cumpriu após ser detido.

O Ministério Público, que havia pedido pena suspensa de seis meses de prisão ou trabalho comunitário, irá recorrer, assim como a advogada do jovem, Patrícia Castiajo, que considerou que a sentença resultou da pressão dos media.

Vítor, agora com 18 anos, foi absolvido dos três crimes de ofensa à integridade física qualificada de que estava acusado. O tribunal não deu como provado que tenha agredido ‘Gi’; apenas que viu a violência "com um voyeurismo estranho" durante vários dias e que "fugiu" sem avisar o 112, o segurança ou os monitores das oficinas de São José, onde estudava. A "atitude cobarde" foi justificada com uma "desculpa esfarrapada", disse o juiz. Vítor disse não querer arranjar problemas e alegou que mesmo que tivesse pedido ajuda a ambulância não teria conseguido entrar no devoluto parque do Pão de Açúcar, onde a mulher transexual sobrevivia numa tenda que o grupo também destruiu.

O tribunal mostrou-se mais uma vez admirado com a "memória selectiva dos jovens". Esqueceram os factos mais graves – quem agrediu – mas nunca que Vítor lhes pedia para pararem de bater na ‘Gi’, como defenderam em depoimentos "omissos, vagos, imprecisos, desconexos e inverosímeis".

A "sociedade está perplexa", referiu o juiz na direcção de Vítor, que se disse arrependido "sem nunca mostrar essa emoção". Comovido, ao ler o acórdão, João Grilo questionou a "imensa crueldade". "Não foi um acidente. Mal estamos nós quando a sociedade cria filhos assim", sublinhou.

PORMENORES

VIOLÊNCIA NA ESCOLA

No acórdão, o juiz fez alusões a outros casos mediáticos. Comparou a atitude de Vítor com a dos jovens que assistiram à luta por um telemóvel na Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto."Divertiram-se a ver alguém a sofrer", disse João Grilo, lembrando ainda o caso das jovens que agrediram uma colega nos Estados Unidos e colocaram o vídeo no YouTube e o do taxista que atropelou três meninas no Porto e "não parou para as ajudar".

BATIAM NOS CÃES

"Eu atirava pedras aos cães." A "frase lapidar", dita em depoimento por vários colegas de Vítor, continua a ressoar no colectivo que julgou o caso, conforme admitiu, emocionado, o próprio juiz-presidente, João Grilo.

(por Pedro Sales Dias, com edições PortugalGay.PT)

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