a "dupla moral" da igreja. Muitas associações que são membros da rede "Nós somos Igreja" destacam o facto de, em muitos países, os padres viverem maritalmente durante o sacerdócio. A "dupla moral" da Igreja é também criticada com alguma amargura por Rafael Abat, responsável do Lambda, um movimento cristão de homossexuais. "Os padres homossexuais pregam uma coisa e levam uma vida completamente diferente. Isso cria situações extremas", assegura Rafael Abat, que recorda que o celibato facultativo falhou a aprovação durante o pontificado de Paulo VI (1963-1978), antes de se transformar num tabu com o Papa João Paulo II. Teólogos "rebeldes". Durante o último quarto de século, os teólogos "rebeldes" como o brasileiro Leonardo Boff ou o espanhol José Tamayo, sofreram com o rigor dogmático do Vaticano, ilustrado pela imagem de Karol Wojtyla admoestando publicamente Ernesto Cardenal - um dos três religiosos membros do governo marxista do Nicarágua no início dos anos 80. "Lamento verdadeiramente a luta do Papa João Paulo II contra os teólogos da libertação, porque eles escolheram o caminho mais difícil marchar com os pobres", disse recentemente Leonardo Boff, próximo desta teologia que se apoiava no marxismo e era inspirada pelo padre peruano Gustavo Gutierrez nos anos 70, antes de se desenvolver em toda a América latina. Leonardo Boff abandonou a sua actividade sacerdotal em 1992, depois de muitos conflitos doutrinais com a Congregação pela doutrina da fé do Vaticano, dirigida pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger. Em 2001, Juan Luis Cipriani, arcebispo de Lima e mebro da Opus Dei (uma poderosa e opaca organização católica conservadora), foi ordenado cardeal por João Paulo II. Este foi um gesto interpretado como um símbolo da luta contra as correntes socialistas na América latina.