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Sexta-feira, 9 Setembro 2005 00:59

SANTA SÉ
Teólogo católico apresenta desafios para a Igreja



PortugalGay.pt

A Igreja Católica precisa de ter "uma nova atitude" em relação a temas como a contracepção ou o aborto, de dar "guarida" aos direitos humanos também no seu interior, de descentralizar as suas estruturas de decisão e participação e de dialogar com uma Europa "onde cresce a indiferença". Anselmo Borges, padre, teólogo e professor de Filosofia na Universidade de Coimbra, propôs ontem em Valadares (Gaia) um autêntico manifesto para a revolução na Igreja.


Foi na abertura do congresso Deus no Século XXI e o Futuro do Cristianismo que este membro da Sociedade Missionária da Boa Nova, uma congregação católica missionária fundada em Portugal há 75 anos, fez a lista dos desafios internos que o cristianismo enfrenta. "Que os dois mil milhões de cristãos (metade são católicos) se convertam em verdadeiros discípulos e discípulas de Jesus é o maior desafio. Aliás, essa conversão constituiria a maior revolução da História", afirmou Anselmo Borges.

Mas há outras questões que a Igreja Católica tem que enfrentar: "Não se pode continuar a falar de Adão e Eva ou do pecado original como se não houvesse Darwin e a evolução", é preciso colocar em diálogo a razão e a fé, como se deve "dar atenção a uma educação para a autonomia moral responsável, concretamente no domínio sexual e conjugal".

Neste último ponto, Anselmo Borges exemplificou com a contracepção, o aborto - "cuja descriminalização não significa aprovação e, ainda menos, recomendação" - e com "a situação dos católicos divorciados que voltam a casar e querem dignamente participar nos sacramentos".

A questão de Deus

O teólogo missionário espera também que "a promoção dos direitos humanos no interior da Igreja, o que implica", entre outras coisas, "pôr termo à discriminação da mulher" e salvaguardar a "liberdade de investigação e ensino". A descentralização é outra tarefa urgente para a estrutura católica, na opinião de Anselmo Borges. Mais autonomia para as igrejas locais, unidade que não se confunda com "uniformidade", e a "desromanização" da Igreja foram ideias avançadas.

Os desafios para o cristianismo são, entretanto, "os mesmos que os desafios para a humanidade". Entre estes, Anselmo Borges citou o diálogo inter-religioso, do qual "fazem parte também os ateus"; a obrigação de repensar a democracia num mundo globalizado; a "via correcta da interculturalidade e da mestiçagem"; a cibercultura, cujo risco é transformar-se num "labirinto" em vez de rede; a genética e as neurociências, que exigem um novo humanismo; a reflexão sobre o homem, que ultrapasse o "dualismo e o materialismo dogmático"; e o desafio ecológico.

Primeiro desafio, anterior a todos estes, é a questão de Deus, que deve ser discutida por crentes e não-crentes. Não tanto "por causa de Deus como por causa do homem". Perguntou o filósofo: "O que mudaria na vida de cada um se Deus existisse mesmo ou se, pelo contrário, se pudesse demonstrar que não há Deus? O que é que se quer dizer quando se diz que se acredita em Deus? O que é que se quer dizer quando se diz que não se acredita em Deus?"

Na tarde de ontem falaram ainda dois pensadores espanhóis: José María Mardones disse que se caminha para uma maior tolerância entre as religiões, mas também para um pluralismo religioso com uma maioria de expressões "experimentais e pouco sérias". Andrés Torres Queiruga reclamou a necessidade de a Igreja se deixar transformar pela teologia. Hoje, o congresso debaterá questões como o ateísmo e a mística, a democracia e o feminino na Igreja, os media e a transcendência e o multiculturalismo.

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