É a primeira vez que o papa, falando a jornalistas a bordo do avião que o traz ao Brasil, trata em profundidade de um tema polêmico, que está na pauta em muitos países, como Estado Unidos, México, Itália e o próprio Brasil.
O papa foi questionado se apoiava os líderes eclesiásticos mexicanos que ameaçaram excomungar parlamentares esquerdistas que no mês passado aprovaram a legalização do aborto na Cidade do México.
'Sim, esta excomunhão não seria arbitrária, mas sim permitida pela lei canônica, que diz que matar uma criança inocente é incompatível com receber a comunhão, que é receber o corpo de Cristo', disse ele.
'Eles [líderes da Igreja mexicana] não fizeram nada de novo, surpreendente ou arbitrário. Eles simplesmente anunciaram publicamente o que está contido na lei da Igreja, que expressa nossa apreciação pela vida e que a individualidade humana, a personalidade humana estão presentes desde o primeiro momento.'
Pela lei eclesiástica, quem propositalmente fizer ou apoiar algo que a Igreja considera um pecado grave, como o aborto, impõe a si mesmo uma 'excomunhão automática'.
O papa disse que os parlamentares que votam a favor do aborto têm 'dúvidas sobre o valor da vida e a beleza da vida, e mesmo uma dúvida sobre o futuro'.
'O egoísmo e o medo estão na raiz da legislação [pró-aborto]', disse ele. 'Nós, da Igreja, temos uma grande luta para defender a vida. A vida é um presente, não uma ameaça.'
Há atualmente um debate sobre se políticos católicos podem apoiar o aborto e o casamento homossexual e ainda assim serem considerados bons católicos.
Nos últimos meses, o Vaticano foi acusado de interferência na política italiana por dizer a parlamentares católicos que se oponham a um projeto que dá mais direitos a casais não-casados, inclusive homossexuais.
Durante a eleição presidencial de 2004 nos EUA, a comunidade católica se dividiu entre apoiar ou não o democrata John Kerry, ele próprio católico, mas defensor do direito ao aborto.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista a emissoras católicas na terça-feira, se declarou pessoalmente contrário ao aborto, mas disse que como chefe de Estado precisa tratar a questão como um tema de saúde pública. A declaração gerou críticas entre católicos