No seu discurso sobre o Estado da Nação, dia 5 de Fevereiro, o Presidente Trump declarou:
Nos últimos anos, temos feito progressos notáveis na luta contra o VIH e a SIDA.
Avanços científicos trouxeram um sonho outrora distante ao nosso alcance. O meu orçamento pedirá aos democratas e republicanos que tomem o compromisso necessário para eliminar a epidemia de VIH nos Estados Unidos dentro de 10 anos. Juntos derrotaremos a SIDA na América. Trump
Os ativistas ficaram supreendidos com a declaração, e ainda mais surpreendidos em verificar que o site HIV.gov gerido pelo equivalente ao Ministério de Saúde do governo de Donald Trump, tinha detalhes sobre o plano.
O próprio secretário de Saúde de Trump, Alex Azar, tem uma citação no site datada de 5 de Fevereiro:
[Temos] uma oportunidade única numa geração de acabar com a epidemia, graças às mais poderosas ferramentas de prevenção e tratamento do VIH na história e novas ferramentas que nos permitem identificar onde as infecções do VIH estão se espalhando mais rapidamente.
Graças à terapia anti-retroviral, os indivíduos com VIH que tomam os medicamentos como prescrito e mantêm uma carga viral indetectável podem viver vidas longas e saudáveis e não têm, efetivamente, nenhum risco de transmitir sexualmente o VIH a um parceiro. Alex Azar
O site continua explicando que a importância da profilaxia pré-exposição (PrEP) no combate às infecções. O site apresenta também os grupos onde o VIH tem tido mais impacto - cerca de 40.000 americanos são infectados por ano - incluindo homens que tem sexo com homens e minorias (não há menção de mulheres transexuais, e aproximadamente um quarto das mulheres trans é VIH+ e mais mais da metade das mulheres negras trans são portadoras).
As metas são claras: redução de 75% em novas infecções em cinco anos e uma ambiciosa redução de 90% em uma década. A administração planeia fazer isso principalmente identificando as áreas mais problemáticas e concentrar aí os recursos.
Problemas para resolver
Há alguns problemas práticos para resolver, que foram acerbados pelas políticas anteriores da própria administração Trump, como, por exemplo, o foco em zonas rurais do sul dos EUA onde o programa federal de seguro de saúde para pessoas de baixos rendimentos não tem cobertura adequada, o que bloqueia na prática o acesso a testes e PrEP de milhões. Estados como Mississippi, Alabama, Geórgia, Carolina do Sul e Flórida, bloquearam ou atrasaram a expansão do Medicaid, e todos os cinco estados foram identificados como prioritários na nova política de Trump.
E muitas dúvidas...
Outra problema é que este novo plano é uma reversão completa das posturas anteriores de Trump, incluindo uma proposta de cortar o financiamento para pesquisa e prevenção. Em junho de 2017, seis membros do Conselho Consultivo Presidencial sobre VIH renunciaram, dizendo que Trump simplesmente não se importava com o combate à infeção, e alguns meses depois Trump demitiu os outros 16 membros sem explicações. O governo dispensou membros militares VIH+ quando não há motivos médicos para isso, e tanto Trump quanto o vice-presidente Mike Pence não mencionaram a população LGBT quando assinalaram o Dia Mundial do VIH/SIDA. E o atual candidato a procurador-geral do governo, William Barr, supervisionou a detenção de imigrantes VIH+ na Baía de Guantánamo, em Cuba, quando ocupou esse cargo no início dos anos 90 sob o comando do presidente George H.W. Bush.
Há também o risco de um novo "shutdown" governamental, que colocaria todos estes planos em pausa.
A ver vamos.