Estamos muito preocupados com o fato de Kasymberdy Garayev estar incontactável após divulgar a sua orientação sexual. Dado o pavoroso histórico de direitos humanos do Turquemenistão, incluindo desaparecimentos forçados, temos todos os motivos para temer por sua segurança e bem-estar Rachel Denber, Human Rights Watch
Em 21 de outubro de 2019, a Radio Free Europe/Radio Liberty (RFE/RL) publicou uma reportagem de Kasymbardi Garayev (Касымберды Гараев), de 24 anos, na qual ele se afirmava homossexual, mas inicialmente não o identificou pelo nome por razões de segurança. A RFE/RL disse à Human Rights Watch que as autoridades turquemenas começaram a procurar Garayev depois da publicação. Em 24 de outubro, Garayev disse à RFE/RL que tinha sido convocado pela polícia para uma verificação de antecedentes. A RFE/RL perdeu contato com ele 30 minutos antes de ele se apresentar na esquadra da polícia e não pôde confirmar se ele efectivamente se encontrou com as autoridades e se alguém o viu desde então.
Repressão policial
A polícia turcomena já tinha detido Garayev anteriormente, em 2018, quando as autoridades usaram perfis falsos on-line para o levar a ter um encontro com outro homem. Ele disse à RFE/RL:
Eles usaram uma arma de choques, exigiram que eu confessasse perante uma câmara de filmar que eu era gay. Kasymbardi Garayev
Garayev foi libertado sem acusações depois de várias horas.
Um testemunho chocante
Em 31 de outubro, a RFE/RL publicou um vídeo que o próprio Garayev tinha preparado para ser divulgado se algo acontecesse com ele. No vídeo, gravado a 13 de Outubro, um Garayev em lágrimas pede desculpas à sua família e divulga o seu nome. Garayev é um cardiologista que retornou à capital do país, Ashgabat, no verão de 2018 após concluir os seus estudos em Minsk, Bielorrússia. Ele disse à RFE/RL que, enquanto estava em Minsk, "provou a liberdade" e começou a aceitar a sua orientação sexual.
No artigo Garayev explica que decidiu a sua história para contrariar o ambiente extremamente hostil do Turquemenistão em relação às pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgéneras (LGBT) e ao constante assédio moral da sua família. Ao sair do armário ele queria iniciar uma discussão na sociedade turcomena para que as atitudes em relação às minorias sexuais mudassem.
Garayev explicou que quando foi libertado pela polícia depois da armadilha on-line os seus familiares abusaram verbalmente dele e tentaram "curá-lo", levando-o a imãs e fazendo-o procurar tratamento psicológico. Ele também disse que está impedido de deixar o pais, porque a sua família tem contatos com o governo que usaram nesse sentido. E mesmo assim no vídeo de despedida ele pede desculpas à família:
Minha família, me perdoem! Eu tenho-vos magoado muito ultimamente. Fiz-vos chorar. Eu não queria vos magoar. Se eles me levarem para algum lugar, saibam que eu não sou culpado de nada. Desculpem! Se eu desaparecer de repente, me perdoem! Sou o que sou!"
Repressão estatal
A conduta consensual entre adultos do mesmo sexo é uma ofensa criminal sob a lei turquemena, punível com uma pena de prisão máxima de dois anos. Nos últimos anos, a polícia usou exames anais forçados em pessoas acusadas de conduta sexual com pessoas do mesmo sexo.
O Turquemenistão tem um governo altamente repressivo. As pessoas que cooperam com os meios de comunicação estrangeiros são frequentemente perseguidas. Mais de 120 pessoas desapareceram após serem presas ou após um julgamento, e as suas famílias não têm informações oficiais sobre seu paradeiro ou situação. Nesse contexto, quando alguém que é convocado pela polícia e desaparece, há um risco real de que ele possa ter sido alvo das autoridades.