No anfiteatro da Escola Secundária de Vila Nova de Santo André, no Alentejo, o ar despreocupado dos finalistas ali reunidos dá lugar a expressões de choque. Acabaram de ouvir que fazem parte do grupo etário responsável por cerca de metade dos novos casos de infecção de VIH em Portugal. A informação apanha-os de surpresa. "Se for detectado no início pode ser tratado?", questiona um aluno no meio da plateia. "Como é que nos podemos proteger?", atira quase em simultâneo um colega, logo atropelado por outra pergunta "Onde é que podemos fazer um teste para saber se estamos infectados?".
O técnico da associação Abraço tem um ranking "preocupante" das principais dúvidas levantadas pelos milhares de jovens que contactou ao longo de uma década. "O que é que significa VIH?" e "Como se transmite o vírus?" continuam no top. Perguntas difíceis de aceitar numa altura em que Portugal assinala precisamente 25 anos da detecção do primeiro caso de sida no país.
"Ao contrário dos estudos e relatórios que vão sendo divulgados sobre o conhecimento desta matéria, todos os dias, respondo às mesmas perguntas e dúvidas que respondia há dez anos", alerta.
A experiência do técnico é atestada pelas estatísticas, que revelam um paradoxo aparente a geração que nasceu num mundo com VIH, que tem acesso à Internet e informação sobre sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis é também uma das mais atingidas pelo vírus. E é também responsável por Portugal estar em segundo lugar na tabela dos países europeus com a maior taxa de mães adolescentes.
"Acredito que se todas as escolas tivessem programas de educação sexual consistentes, a situação seria muito melhor", defende Duarte Vilar, director da Associação para o Planeamento da Família, que promove educação sexual há mais de 30 anos