Texto e fotos por Rex Wockner para PortugalGay.PT. Todos os direitos reservados.
A geração Stonewall 2.0 desceu à capital dos Estados Unidos da América no dia 11 de Outubro para exigir "a protecção igual em todas as matérias regidas pela lei civil em todos os 50 estados".
O organizador Cleve Jones da Marcha Nacional para a Igualdade estimou a participação entre 200 mil a 250 mil.
Andy Towle do site Towleroad.com disse que a polícia lhe deu os mesmos números. Os grandes medias apresentaram notícias ligadas a taxas de participação em "dezenas de milhares" (ou até "Milhares" como aconteceu com a TV em Portugal). Mas, como Towle observou: "Havia 10 vezes mais pessoas na Avenida Pensilvânia, quando a área em frente do palco estava cheia", uma afirmação que é apoiada por um vídeo postado por Towle no seu site.
A marcha de 3.7 quilómetros terminou no Capitólio com horas de discursos, incluindo a estrela da música pop Lady Gaga.
"Eu tenho visto e testemunhado tantas coisas nos últimos dois anos e posso dizer com certeza absoluta que este é o momento mais importante da minha carreira", afirmou Gaga.
"A geração mais jovem, a minha geração, somo nós que começamos a aparecer em todo o mundo, e temos de continuar a empurrar este movimento para a frente e acabar com a separação. Temos de exigir a plena igualdade para todos. Eles dizem que este país é livre e eles dizem que este país é equalitário, mas não é igual se é apenas para alguns".
"Obama, eu sei que nos está a ouvir. ESTÁ A OUVIR?! Nós continuaremos a fazer pressão sobre si e a sua administração para passar das promessas à realidade. Temos de mudar agora. Exigimos acções agora."
Na noite anterior à marcha, o presidente Barack Obama discursou para 3000 pessoas no jantar nacional da Human Rights Campaign (Campanha de Direitos Humanos). Ele prometeu revogar a lei "Don't Ask, Don't Tell" (que expulsa do exército qualquer pessoa que divulgue publicamente a sua orientação sexual não-heterossexual), mas não indicou quando pretendia fazê-lo.
"Estou trabalhando com o Pentágono, a sua direcção e os membros da Câmara e do Senado para acabar com esta lei", disse. "Eu vou acabar com a Don't Ask, Don't Tell. Este é o meu compromisso convosco."
A blogosfera gay reagiu de forma extremamente negativa, indicando que o discurso pouco ou nada acrescentou ao que Obama havia dito sobre questões LGBT durante a campanha presidencial.
Mas o discurso foi, apesar de tudo, notável pela sua abordagem abrangente do activismo LGBT e a sua retórica algumas vezes tocante, algo nunca visto num presidente dos E.U.A.
"Embora o progresso possa estar a demorar mais do que gostariam, como resultado de tudo o que enfrentamos - e isto é claro para todos - não duvido da direcção que estamos tomando e do destino que vamos alcançar", disse o presidente. "A minha expectativa é que, quando olharem para o que se passou nestes anos, vão ver uma época em que pusemos termo à discriminação contra gays e lésbicas, seja no trabalho ou no campo de batalha. Vão ver uma época em que nós, como nação, finalmente reconhecemos as relações entre dois homens ou duas mulheres como tão reais e respeitáveis como as relações entre um homem e uma mulher."
Mas muitos activistas queria mais. Queriam que Obama falasse contra o referendo de 3 de Novembro no Maine que pretende revogar a lei estadual que legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e contra uma iniciativa similar no estado de Washington, que pretende revogar a lei de parceria doméstica "igual ao casamento, excepto…". Queriam saber quando será revogada a Don't Ask, Don't Tell, quando será revogada a Defense of Marriage Act (que proíbe o reconhecimento a nível federal dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo) e também quando será aprovada a Employment Non-Discrimination Act (Lei Contra A Discriminação no Trabalho).
Obama não indicou nenhuns "quando"
"Eu não consegui discernir nada de novo", disse Cleve Jones em entrevista. "Parecia uma repetição das promessas que fez durante a campanha, e senti como se fosse um discurso de campanha. Foi bem escrito, foi maravilhosamente lido - o homem tem o dom - mas, sabem, eu espero que não seja o caso, mas, precisamos de recordar os jovens que não estavam presentes durante a Administração Clinton que este discurso é muito semelhante. É uma sensação de déjà vu. Os discursos bonitos, as proclamações floridas, a disposição para atender os nossos pedidos, e a lista de pessoas bem posicionadas que conseguem empregos fantásticos. Sinto muito, mas a nomeação de um embaixador gay para a Nova Zelândia não é um passo muito ousado... Temos que continuar fazendo o trabalho de pressão para fazer o que é correcto".
O Co-Director da Marcha, Robin McGehee ficou ainda menos impressionado.
"Eu senti-me totalmente desapontado", disse McGehee em entrevista. "A nossa comunidade deixou-o andar e nós não o forçamos a vir ao jantar anunciar mudanças substanciais. Tudo o que ele nos deu foi mais um 'por favor, aguarde'. Ele tem 20 valores no trabalho sobre os direitos que nos são negados, mas uma 9 quando se trata de fazer realmente algo para tratar do assunto".
No jantar da HRC, no entanto, Obama foi recebido com repetidas salvas de aplausos e apoio eufórico, e o Presidente da Human Rights Campaign Joe Solmonese classificou o evento como "uma noite histórica, onde sentimos a plena aceitação e compromisso do presidente dos Estados Unidos".
"É simplesmente sem precedentes", afirmou Solmonese. "O presidente Obama disse aos LGBT americanos que o seu compromisso de acabar com a discriminação no exército, no trabalho e para casais numa relação e suas famílias é 'inabalável'". Ele mostrou de forma cristalina que é o nosso maior aliado nesta luta, que entende e, na realidade, estimula o nosso activismo e nossa voz, mesmo quando estamos impacientes com o ritmo da mudança. Mas estas observações não eram apenas para nós, eram dirigidas a todos os americanos que compartilham o sonho dele e o nosso de um país onde 'ninguém é negado os seus direitos essenciais, em que todos somos livres para viver e amar da forma que achamos mais adequada.'"
Os elogios a Obama no jantar chique da HRC e as acusações a Obama nas ruas de Washington parecem confirmar de forma inequívoca a separação que emergiu na comunidade gay, no rescaldo da passagem da Proposta 8 na Califórnia.
De um lado, as bases, o povo, muitos jovens LGBT e a malta do Stonewall 2.0, que estão chateados, passados dos carretos e que não vão aturar a situação mais tempo.
Por outro lado, os activistas gays do sistema, que parecem acreditar que o "como sempre se fez", calmo e sereno, ainda é a melhor estratégia.
A meio da National Equality March, quando ficou claro que a participação era suficiente para a marcha poder ser considerada um enorme sucesso, um repórter disse a Cleve Jones, "Já percebeu que acabou de dividir o movimento gay em dois?"